Atirar ao Rio
Às tantas, foi um mergulho em apneia. Assumidamente a exercer o azar como denominador comum, o FC Porto encontrou a roleta do desacerto e empatou uma partida de sentido único, travo amargo e injusto para o que a equipa fez e projectou no seu futebol. Não há desculpas se não a de que o futebol é mesmo assim. Há momentos, como tantas vezes sucede, onde os adeptos celebram uma vitória que cai dos céus. Outros, em que a vitória mais que justa, não aparece nem que os deuses desçam ao relvado. Para uma equipa com margem de erro, um deslize é matéria recuperável, logo a seguir. Para uma equipa que já deu a vantagem indevida aos seus adversários mais próximos, pode ser fatal.
Apostado em repetir os bons resultados dos últimos jogos, Sérgio Conceição optou por reverberar o onze que mais garantias lhe tinha dado num sistema de 4-2-3-1 que aportou soluções diferentes e mais capazes ao jogo colectivo. Dúvidas não havia de que qualquer mudança que pudesse ser introduzida seria um trunfo caseiro entregue ao adversário, transformação que não seria surpresa mas antes supressão do momento e do estado de graça. Este, o da graça, não acabou num empate, mas encontrou um muro que protegia um Rio e impedia o colapsar defensivo das pontes. Avé Rio ou lado verde da força. As repercussões do que se perde em dois pontos não se mede tanto neste par de pontos, mas antes no que está para vir. Este onze não se pode sobressaltar pela perda, só pelo que pode deixar de ganhar. Nunca, esta época, o FC Porto fez tanto para merecer somar os três pontos. Admitir que o Rio Ave fez muito e mais do que suficiente para amealhar pontos seria também negar que se o FC Porto goleasse, estaríamos perante um resultado justo. A aposta no mesmo onze por parte de Conceição solidificou ideias e transmitiu à equipa a sensação de dever cumprido mesmo que, por azar ao jogo, não cumprisse a sua linha e bingo de três pontos. Há uma roleta chamada futebol a que nenhuma equipa, por maior que seja, é alheia. Este foi o jogo onde mais esperança tive numa vitória que sucedesse a um empate.
Nada está perdido mesmo para os menos crentes.
Há mais para além deste empate, embora a margem de erro seja agora de zero ou pouco mais
Para além de uma segunda volta onde recebe os seus adversários mais directos, o FC Porto conta com um acervo de alma que se tem vindo a reforçar pela confiança nos novos processos. Não pode ser o futebol-a-ser-futebol que vai hipotecar esta equipa do desígnio de ser campeão. Só mesmo a falta de confiança naquilo a que tardiamente chegou há semanas - e que agora sofreu o primeiro revés – pode criar obstáculos intransponíveis. Há algo em que Sérgio Conceição deve insistir mesmo que tenha sido manifestado numa convicção tardia. Há mais para além deste empate embora a margem de erro seja agora de zero ou pouco mais.