A bola pula e não avança
1As bolas que não entraram na primeira parte deixaram no ar um clima de dúvida na cabeça dos jogadores para uma segunda parte em que, mesmo continuando em cima do adversário fechado, nunca mais tiveram igual riqueza e velocidade de movimentos. A equipa pareceu então cansada. Não era físico, era mental. A chamada fadiga tática em que os jogadores acabam o jogo (e também o jogam durante esse tempo) mais com dores na cabeça do que nas pernas. Sucedeu a um FC Porto mentalmente bloqueado no seu 4x3x3 e a passagem para 4x4x2 (meter um segundo ponta-de-lança, neste caso Martínez, tão lutador como tecnicamente limitado) para jogar mais na área travou mais a forma certa da bola lá chegar no último passe.
Dos que então entraram, vê-se que Iván Jaime ainda não tem visão coletiva do que deve ser o seu jogo no... jogo da equipa com espaços curtos para resolver, ao contrário de Gonçalo Borges que merece mais minutos. Tem finta e centro, repentista sem medo de ir para cima e a resolver rápido essa equação conjunta finta/centro.
2Luís Freire reconheceu que no tal início podia ter perdido o jogo mas sobrevivendo a essa fase (sem o mapa de posicionamento certo para fechar ou sair) estabilizou atrás a defesa a “5” e segurou a segunda parte com outra lucidez tática em bloco baixo. Com o tempo, as diabruras de Chico
Conceição foram perdendo critério (e objetividade), pelo que Nóbrega (bom central de quem poucos falam e que será dos melhores a nível do passe na Liga) e sobretudo Aderllan Santos cresceram a tirar todas as bolas. Na impossibilidade de vibrar com qualquer bola de contra-ataque, Santos festejou cada corte (sobretudo os da tal fase inicial sufocante) como se fossem golos (isto é, o evitar do golo sofrido anunciado). É o orgulho do defesa no momento do corte. Foi o homem do jogo... defensivo do Rio Ave e, por inerência, do jogo como cadeado para não deixar abrir o cofre do 0-0. 3
Zalazar tem jogado quase como um nº10 no sistema do Braga. Está a crescer nessa
posição mas não é, claramente, a sua, a qual seria mais a de um nº8 livre (isto é, livre de tanta responsabilidade de fazer duplo pivô defensivo sem bola).
Ou seja, não o vejo para estar entre linhas mas sim para lá entrar vindo de trás, definindo mais na frente o último passe ou remate. O nº10 do Braga, como segundo avançado móvel/terceiro médio a pegar jogo, tem de ser Ricardo Horta, e Zalazar partir mais de trás.
Foi assim o início na época da dinâmica tática posicional do sistema preferencial. Então, Zalazar sentiu a entrada num novo futebol (e o seu jogo prendeu-se) mas, nesta fase, princípios e contexto entendido, podia regressar (ele e a equipa) a esse princípio.
A fadiga tática: aquela em que os jogadores acabam o jogo (e jogam-no muito tempo) mais com dores na cabeça do que nas pernas