“Com esta carga fiscal não podemos competir com Itália ou Espanha”
Líder da Liga defende séria reflexão do Estado sobre os incentivos ao futebol, a bem de uma competitividade que, com a atual exigência económica aos clubes, será impossível de nos aproximar dos big-5.
Dirigente fala de um problema de escala em Portugal e aponta diversos exemplos de países que contam com apoios firmes do aparelho de Estado ao futebol. Defende que esse é o caminho a seguir por cá.
No quadro internacional, verifica-se um desnível muito acentuado naquilo que são as receitas dos principais clubes europeus e dos principais campeonatos. Que caminho pode o futebol português percorrer para diminuir essas discrepâncias e equilibrar mais o conjunto de forças?
—O que diz é uma realidade. Temos um problema de escala em Portugal. Não é só na economia do futebol, mas também na economia da indústria do vestuário, na economia da agricultura ou da cortiça. Em todas as atividades temos problemas de escala e isso não nos permite competir com outras grandes indústrias como a alemã, a espanhola ou a inglesa. Esses países têm uma escala que nós não temos. O que nos podemos fazer é seguir o modelo de desenvolvimento que nos diferencia dos outros. A nossa capacidade de desenvolver o tal talento que temos vindo a fala ré o que nos vai diferenciar. Temo suma capacidade de desenvolvimento que nos permite fazer chegar o nosso jogador a esse primeiro mercado. Jamais poderemos competir comreve nu es[ receitas] ouincome[ren da] dos clubes que internacionalmente têm uma escala maior, mas no balanço competitivo somos muitíssimo bons. Claro que há questões que a própria indústria do futebol, como noutras indústrias, terão de ser alteradas para que possamos ser mais competitivos. Quando digo isso falo, por exemplo, em terminar rapidamente o processo de centralizaçao dos direitos e ter redução dos custos de contexto. Não podemos competir com Itália ou Espanha quando a carga fiscal na taxa de IRS de todos os jogadores nesses países é muito inferio r ao que se pratica em Portugal, ou quando temos uma taxa de IVA e não nos permitem fazer deduções de determinados custos. Isso gera incapacidade de fazer a retenção de talento. Há custos nesta indústria que, se não tivermos o mínimo de equiparação no que é praticado na Europa evoluída, vai ser complicado, porque não poderemos tornarnos mais competitivos. Não podemos competir com o futebol de países que têm outros benefícios fiscais e uma centralização de direitos televisivos avançada há muitos anos. Esses custos de enquadramento são fundamentais, pois têm interferência direta com os orçamentos dos clubes.
Não tem havido abertura por parte do Estado português para baixar a carga fiscal a que se refere. Acredita que isso pode mudar em breve? Que estratégia pode ser seguida pela Liga para tudo ser diferente?
—Temos de assumir alguma responsabilidade do futebol para que outros nos reconheçam capacidade para liderar estes processos e nos possam dar uma garantia de que somos merecedores dessa confiança. Temos feito esse trabalho com métricas próprias. Dou alguns exemplos. A nossa indústria contribui com 0,3 por cento do PIB e paga mais de 200 milhões de euros anuais em impostos. Estes números, fornecidos pelo ObservatóriodaLiga,permitem-nos chegar aos parceiros e ao Executivo, mostrando que a indústria do futebol tem de ser tratada como outra qualquer. Se queremos avançar no processo de internacionalização, então o IAPMEI tem de nos ajudar. Se queremos fazer outro tipo de evento em Portugal, temos de ser tratados como outros Summit quaisquer, como da indústria da tecnologia. Temos de ter os mesmos apoios. E ao dizer isso, falo de apoios para o desenvolvimento do futebol. Falta este salto qualitativo, que tem de ser feito de forma conjunta, mas não é possível, por exemplo, que queiramos o regresso das famílias aos estádios quando no ramo do entretenimento só o futebol não tem taxa reduzida de IVA da bilhética.
“A taxa inferior de retenção de IRS em vários países gera incapacidade de retermos o nosso talento”
Pedro Proença Presidente da Liga e da EL