O bem dos jogadores e o mal das equipas
1 A correr no sintético como num relvado natural (como também faria num lamacento doutros tempos), Gyokeres atravessa os jogos (e defesas) sem fazer perguntas. Na Suíça, a cada arranque levava atrás toda a dinâmica criativa ofensiva leonina: previsível no posicionamento coletivo mas imprevisível na movimentação individual. É o jogo pensado pelo treinador e o jogado pelos jogadores onde, desta vez, Edwards (como noutras Trincão) e Pote, inventaram, em “ziguezague” ou no “corte e costura” de passe/remate, lances de golo jogada atrás de jogada. Uma exibição mecanizada forte desde o início que deu para gerir titulares e, no plano de jogo, lançar Daniel Bragança. Precisa, claramente, de jogar mais porque, apesar da qualidade com bola, não tem a intensidade das rotinas defensivas no pós-perda, momento e atitude da qual a fórmula-Amorim se alimenta para depois servir o ataque. Valeu sempre Hjulmand, o melhor “jogadortático” da equipa, o único (arrisco dizer) indispensável para o modelo de jogo manterse sempre com os pés coletivos presos à relva nos sítios certos.
2 O jogo denunciado pode resultar dos movimentos previsíveis ou da falta de mudança de velocidade dos mesmos sem dar tempo do adversário cobrir espaços. O Benfica de processos lentos deixou a equipa do Toulouse (inferior mas que, bem organizada, teve sempre esse tempo para se ordenar defensivamente) respirar com calma na Luz. Controlando a profundidade, controlou as acelerações de Rafa (quando fugiu teve uma bola na barra quase poética). Carreras é um lateral que pode crescer quando ele e a equipa perceberem como têm de jogar em conjunto (o entrosamento). Neves-Kokçu dão lições de passe com espaço mas a nível de recuperação de bola é preciso Aursnes vir dentro pressionar (mesmo quando regressa na transição depois de atacar como lateral).
A viver acima da equipa, Di María faz o seu jogo particular e, quando aparece, ilumina a equipa num jogo em que, mais uma vez, deixou no ar a demora do treinador em jogar (ajudando a equipa) a partir do banco.
3 Parecia que Artur Jorge nunca tinha visto jogar a equipa do Qarabag e seus tecnicistas da frente (Zoubir e Juninho). A goleada sofrida nasceu dum velho problema defensivo (essencialmente na transição defensiva quando a equipa é apanhada após estar posicionada para... atacar). Penso que a opção pelas marcações “homem” visou colmatar esse problema, mas mais do que o resolver (passou a correr atrás do adversário) tirou a melhor mobilidade ofensiva neste jogo agravada pela perda de Horta, Bruma, a quebra de Djaló e Banza mal servido. Ficaram assim destapadas as bases do melhor e pior que este Braga tem mostrado esta época: o melhor a atacar nasce da qualidade dos jogadores, o pior a defender nasce das deficiências da equipa.