Dividir para reinar cria reinos divididos
Éincrível a quantidade de futebol que pode caber num fim de semana em que os campeonatos estão parados. Ontem, por exemplo, foi dia de lendas. As do FC Porto e do Real Madrid, que se defrontaram no Santiago Bernabéu por uma causa maior, devolvendo aos relvados ídolos como Baía, Casillas, Costinha, Figo, Zidane, Seedorf ou Butragueño entre dezenas de nomes que fizeram sonhar os adeptos dos dois clubes. Mais tarde, as de Liverpool e Ajax, unidas na homenagem a Sven-Goran Eriksson, que cumpriu o sonho de treinar os “reds” antes de receber uma última vénia de Anfield e do futebol em vida, como é justo que aconteça com as lendas. Nas verdade, não foram dois grandes jogos, não há grandes análises táticas que permitam decifrá-los e os resultados finais foram, ao contrário do que é costume, o menos importante. Mas nem por isso deixaram de ser dois jogos enormes, desde logo no que significaram em termos de respeito pela memória coletiva de cada clube, de cada protagonista e do futebol em geral. Ora, é esse mesmo respeito que começa a resvalar na campanha para a presidência do FC Porto e que não faz justiça às inúmeras lendas do clube, nem às vivas, nem às que vivem na memória dos adeptos. A cerca de um mês das eleições, os portistas ganhariam mais em saber exatamente o que distingue os programas dos candidatos, de que forma se propõem recuperar financeira e desportivamente o clube e quem os acompanhará nessa tarefa do que com a redução do discurso ao mínimo denominador comum da polémica e da intriga. Dividir até pode servir para reinar, mas um reino dividido é sempre presa fácil para adversários unidos. Talvez, para além de como ganharem as eleições, os candidatos precisem de começar a pensar que clube terão nas mãos a partir de 27 de abril: o FC Porto que é uma nação, ou uma nação dividida em tribos.
Sobra a questão sobre que clube existirá a partir do dia 27 de abril: o FC Porto que é uma nação ou uma nação dividida em tribos?