O Jogo

O relógio que muda os tempos de jogo

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1

Dizem que no Japão existe outra noção do tempo. Para um japonês a jogar futebol fora do sol nascente, acredito que também. Foi a sensação que tive vendo o relógio de jogo de Morita e como os seus ponteiros de visão e passe marcavam um tempo diferente (e o mais certo) num jogo de ataques alternados em velocidade. Podiam ser só curtos instantes mas eram os suficiente­s para dar a pausa necessária ao jogo num momento em que, após começar a perder, a equipa parecia ir precipitar-se mais nesse jogo rápido que podia partir o jogo (e assim torná-lo mais perigoso, abrindo a porta a contra-ataques adversário­s). Só depois de existir esta noção de pausa é que as mudanças de velocidade na frente podem fazer a diferença em qualidade, coletiva ou individual. E foi neste último ponto que os ponteiros de técnica do relógio de Trincão voltavam a fazer acelerar o jogo. No momento e espaço certo (em ligação com Catamo, ponteiro-lateral doutras investidas desde trás) o Sporting deu dessa forma a volta ao jogo.

2

A melhor forma de gerir um jogo quando se está a ganhar é tendo mais tempo controlo da bola mesmo que esta esteja na posse do... adversário. Estranho? Não! Está relacionad­o com o equilíbrio tático de cobertura precisa dos espaços. Daniel Bragança fez mais a parte desse trabalho com ela. Hjulmand entrou na parte final (quando a intensidad­e de pressão para reagir à perda sobe) e garantiu a tal segunda vertente. São outros tempos no jogo.

3

A lanterna vermelha acesa na Luz. Em três flashes, três penáltis defendidos (um deles na repetição) e o congelador de jogo defensivo com a porta fechada. O Chaves manteve-se frio com Hugo, o guarda-redes devorador de penáltis, e acabou por ceder quando numa bola parada cruzada para a área (com a equipa toda alinhada a defender) surgiu um baixinho pelo meio do caminho a dar-lhe um toque de cabeça para fazê-la ganhar mais velocidade até entrar junto ao poste mais distante.

“O que mais tinha de fazer para ser eleito o melhor em campo?”, perguntava, no fim, Hugo, abrindo os braços. A resposta (injusta) é simples: tinha de defender aquela bola puxada pelo jogador mais baixote em campo. O futebol tem desígnios pragmático­s. E Neves voltou a ser também, além disso, o jogador mais influente (condutor construtiv­o desde trás e maior recuperado­r de bolas) para mudar o ritmo de “jogo sonâmbulo” e denunciado que o Benfica mostrou (quase) todo o tempo.

O 4x4x2 encarnado com Di María, Rafa e Neves atrás do n.º 9 Cabral, olhava a lanterna vermelha e passeava com a bola em frente dela. Talvez na cabeça dos jogadores existisse uma prévia ideia de que este jogo se ganharia mais cedo ou mais tarde. Predominou a preocupaçã­o de gestão física para a sucessão de grandes jogos (dois clássicos) e decisivos (“quartos” da UEFA) que espreitam. Mais do que futebol, é humano.

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Benfica e Sporting venceram pela margem mínima e continuam na corrida ao título
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