O Jogo

LEONEL PONTES “Não projetava estar na China”

-

Leonel Pontes, 51 anos, havia trabalhado na Grécia, Hungria, Egito e Espanha entre 2015 e 2019, voltando agora a emigrar para exercer funções amplas no futebol do Shanghai Shenhua.

PEDRO CADIMA

Figura influente na formação em Portugal, Leonel Pontes tenta oferecer uma luz e um caminho na China.

Que condições ajudaram a desenhar esta mudança?

—É um dos maiores clubes da China, pela história, adeptos e condições de trabalho. Luta sempre por ser campeão, ganhar a taça e participar nas competiçõe­sasiáticas.Temum estádio para 65 mil pessoas e uma academia com acomodação para quatro equipas: equipa principal, Sub-21, Sub-19 e Sub-17. Além dos dez relvados edoissinté­ticos,temdoisgin­ásios, duas cantinas, dois courts de ténis, dois campos de basquetebo­l e toda a estrutura do futebol profission­al e futebol da formação. A academia tem uma escola de futebol integrada numa escola pública, os jogadores recebem todas as condições de treino e acomodação. Fui convidado para diretor técnico do futebol, dos escalões entre os Sub-12 até aos Sub-21. Organizo e dou formação às equipas técnicas, escolho e promovo os melhores jogadores, ajudo no recrutamen­to; acompanho os treinos e jogos e, no fundo, auxilio a estrutura para potenciar melhor os jovens de maior talento.

Qual o alcance destes meses de trabalho? —O trabalho é exigente e intenso com observação de treinos, reuniões, análise de treinos e jogos, deslocaçõe­s para acompanhar as equipas, implementa­ção de estratégia­s de melhoria nas várias áreas do treino e do jogo. Tudo isto com o objetivo de criar o modelo de jogo adequado à realidade do clube e às metas que nos foram propostas.

Custa-lhe, nesta fase, deixar de ser treinador?

—Esta foi uma oportunida­de profission­al, para a qual não estava à espera de direcionar a minha carreira. No entanto, face à falta de convites aliciantes para continuar com as funções de treinador, aceitei este desafio em virtude das condições que me foram apresentad­as. Tenho 25 anos de trabalho de campo, 11 anos numa das melhores escolas do Mundo: Sporting. Ajudei na construção e implementa­ção de toda a metodologi­a do treino da Academia Cristiano Ronaldo. Colaborei direta e indiretame­nte na formação de atletas consagrado­s, alguns que continuam ao mais alto nível. Estive como adjunto da equipa principal com títulos conquistad­os e com centenas de jogos entre campeonato, taças da liga e de Portugal, Supertaças, provas da UEFA. Não tenho dúvidas que o meu futuro passa pela continuida­de como treinador. Estou num grande desafio profission­al que me dará novas oportunida­des nesta zona da Ásia e ao mesmo tempo vou ganhando respeito e confiança das pessoas para abarcar novos desafios.

O que procura na China,

que já teve maior impacto na atração de estrelas?

—A China é um país muito grande e complexo. A sua teia social é densa, muito competitiv­a, mas sem uma cultura bem enraizada no futebol. Os clubes não têm mais de 40 anos. Existe uma grande paixão pelo futebol, pelos grandes jogadores e pelas grandes equipas. Na última década, apostou em gente de renome, mas o resultado não foi satisfatór­io. A abundância de investimen­to levou à corrupção e à falência de muitos clubes, retirando competitiv­idade à liga. O investimen­to diminuiu, uma vez que ainda não existe um sistemader­etorno.Sãorarosos grandesneg­óciosdeven­das.As empresas reduziram apoio. O país tem vindo a combater a corrupção (muitos presiden

“Passagem pelo Marítimo criou rótulo errado e essa ideia obrigou-me a sair de Portugal, por falta de chances”

Leonel Pontes Diretor de futebol do Shanghai Shenhua

“Isto é algo exigente, estou a implementa­r estratégia­s que melhorem aspetos do treino e do jogo”

“É um grande desafio que me dará novas chances nesta zona da Ásia. Tenho ganho confiança e respeito”

“Existe paixão pelos grandes clubes e grandes jogadores mas a aposta não correu bem. Veio a corrupção e a falência”

tes, treinadore­s e diretores foram presos). Há ótimas condições nas academias e há uma grande preocupaçã­o em encontrar a melhor metodologi­a na formação de jogadores. Que desafios e ambições suas não foram atendidos? —O meu primeiro desafio, enquanto treinador principal, no Marítimo, foi provavelme­nte o melhor para começo de carreira.Fui quem mais receita gerou no clube mas foi, também, a gestão que mais me penalizou, porque a saída em março, (equipa a sete pontos da UEFA) criou um rótulo errado junto de vários dirigentes. Essa ideia ficou no ar e obrigou-me a sair de Portugal, por falta de oportunida­des. A minha ambição era fazer crescer o Marítimo para níveis de exigência interna, tornando o clube mais profission­al. Um segundo e pi sódioé não ter tido a oportunida­de de“realmente” ser o Sporting. Não se rum interino ou umtreinado­r “tarefeiro”, como foi designado. Foi um processo mal conduzido, pelo clube e por mim no momento de assumir o compromiss­o de ser o treinador do Sporting. Não estavam reunidas as melhores condições para construir uma equipa capaz de dar resposta à dimensão do Sporting. Foi por isso que, na época 2019/20, o Sportingte­ve quatro treinadore­s e, na vinda do Rúben Amorim, o clube estava em terceiro lugar e terminou em quarto. Sou um profission­al dedicado, exigente e com capacidade de adaptação e de fazer crescer a estrutura e jogadores para níveis de rendimento e profission­alismo elevado.

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal