A ARTE DE NÃO ARRIS
CHAMPIONS Merengues marcaram logo a abrir, defenderam no resto do tempo e acabaram a sorrir no desempate por penáltis
BRUNO VENÂNCIO
No futebol, as noções de ●●● lógica ou justiça são bastante frágeis e falíveis. Em teoria, o jogo de ontem entre o Manchester City e o Real Madrid deveria ter tido um vencedor e um desfecho claros e óbvios; na prática... essa equipa perdeu. O recordista de títulos da competição jogou no Etihad como uma equipa “pequena”, a defender com dez (e às vezes 11) jogadores atrás da linha de bola e sem tentar discutir a eliminatória mesmo depois do golo dos anfitriões, acabando por ser compensado no desempate por grandes penalidades com a inexplicável displicência de dois dos elementos dos citizens - um dos quais Bernardo Silva.
O primeiro golo do encontro, que daria o mote para tudo o que se seguiu, chegou logo ao minuto 12 e foi uma demonstração clara do que é este
Real Madrid de Carlo Ancelotti: uma equipa organizada, matreira e com três gazelas sempre à espreita da possibilidade de sair em contra-ataques rápidos para ferir o adversário. Rodrygo foi o autor do golo, fazendo jus ao estatuto de marcar (quase) sempre em jogos decisivos, mas é preciso realçar o incrível domínio de bola de Bellingham que manteve a jogada viva após o chutão na frente que veio da defesa; Valverde e Vinícius Júnior deramseguimentoeRodrygo, à segunda tentativa, desfeiteou o compatriota Ederson.
A partir daí, o Real Madrid desistiu por completo sequer de tentar jogar, limitando-se a fechar todos os caminhos para a baliza à guarda de Lunin. Apesar das dificuldades, o Manchester City conseguiu aqui e ali ir provocando uma ou outra brecha, como a que permitiu a Haaland cabecear à trave ao minuto 19, com Bernardo Silva a falhar a recarga de forma inacreditável com a baliza escancarada, ou ainda o alívio de Nacho em cima da linha após desentendimento com Lunin provocado pela pressão do norueguês.
O guarda-redes ucraniano foi negando todas as tentativas dos citizens, mas seria a entrada de Doku para o lugar de Grealish a trazer consigo a agitação que os comandados de Pep Guardiola precisavam de introduzir no jogo. O inter
nacional belga fez miséria pelo flanco esquerdo a cada intervenção e foi num desses arranques que surgiu o golo do empate, com De Bruyne a emendar após corte incompleto de Rudiger.
O criativo belga teria mais duas ocasiões de golo antes dos 90’, mas a pontaria atraiçoou-o. O prolongamento nada trouxe de novo, a não ser o primeiro canto para o Real Madrid... aos 105’+1’, na sequência do qual Rudiger quase era feliz sem saber muito bem como. O que acabaria por acontecer no desempate final: chamado a bater o penálti decisivo, numa série que começou com Ederson a deter o remate de Modric mas cuja sequência veria Bernardo (de forma bisonha) e Kovacic desperdiçarem os seus pontapés, o central alemão não tremeu e deu o apuramento ao bichopapão da prova.
“Tenho de agradecer aos meus jogadores pela forma como jogaram. Não ganhámos mas foram excecionais. Não tenho arrependimentos” Pep Guardiola
Treinador do Manchester City
“Todos nos davam como mortos, mas ninguém o pode fazer. O Real nunca morre. Gosto muito quando uma equipa luta e se sacrifica” Carlo Ancelotti Treinador do Real Madrid