Sou o que o meu último resultado diz
1 Terminou a época e tudo se movimenta em relação à próxima. O futebol quase não tem tempo de parar para pensar.
Todos vivem de influências. Os treinadores sobem degraus em função do último resultado. É lógico, nessa perspetiva, ver Daniel Sousa e Rui Borges, após o sexto e sétimo lugares no Arouca e Moreirense, rumarem a Braga e V. Guimarães. É a natural evolução das espécies na carreira.
Outra coisa é perceber exatamente com que ideias jogam as equipas desses treinadores e como (num perfil conjunto tático-técnico e de liderança) projetar o encaixe nesses novos patamares de realidade competitiva se tivessem perdido na época anterior (isto é, se tivessem ficado em lugares abaixo na classificação).
Não mudaria a avaliação que eu faria sobre eles mas, não duvido, mudaria a forma de esses clubes olharem para eles. O que essencialmente se contrata é a imagem do sucesso (tenha ele a medida que tiver), não a substância da competência.
2 Ambos colocaram, sem dúvida, as suas equipas a jogar bem, em modelos de jogo diferentes. Nem terá sido, neste caso, devido às diferentes armas/jogadores de que dispunham, mas sim mais devido às convicções táticas preferenciais. Daniel Sousa utilizou o bom elenco arouquense de influência competitiva ofensiva espanhola, criando variações na dinâmica de jogo de acordo com o estilo dos jogadores e do adversário. Já Rui Borges, mesmo substituindo alguns jogadores (num plantel curto que perdeu o melhor n.º9, André Luís, a meio) quase sempre manteve o mesmo desenho tático e sobretudo colocação de bloco médio-baixo (com a consciência certa que não é preciso pressionar sempre, e muito menos de forma alta, para jogar e estar bem em campo). Em tese, o “transfer” destes dois perfis pode encaixar naquilo que serão, proporcionalmente num degrau superior, na teoria, as tipologias de jogo de Braga e V. Guimarães. O que muitos treinadores têm, porém, hoje de fazer é contrariar a realidade, com uma prática que supere o óbvio (das condições em tese).
3 Os treinadores podem destacar-se por muitas qualidades, mas, por melhores e avançadas metodologias de treino que tenham, não encontro uma melhor do que colocar os jogadores nos locais certos. Assim como os jogadores precisam estar na melhor posição em campo, os clubes precisam descobrir a melhor forma de viver com os seus treinadores além de resultados.
Cada um tem a sua política desportiva. No dia, porém, em que vislumbrar uma aposta em quem vem de perder (por circunstâncias várias) na época anterior mas no qual se detetou o potencial enorme do trabalho que tem, eu direi que, por fim, mudou a forma de fazer equipas e perceber de futebol. Até lá, seguimos como sempre. O óbvio e o último resultado.