O Jogo

Sou o que o meu último resultado diz

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1 Terminou a época e tudo se movimenta em relação à próxima. O futebol quase não tem tempo de parar para pensar.

Todos vivem de influência­s. Os treinadore­s sobem degraus em função do último resultado. É lógico, nessa perspetiva, ver Daniel Sousa e Rui Borges, após o sexto e sétimo lugares no Arouca e Moreirense, rumarem a Braga e V. Guimarães. É a natural evolução das espécies na carreira.

Outra coisa é perceber exatamente com que ideias jogam as equipas desses treinadore­s e como (num perfil conjunto tático-técnico e de liderança) projetar o encaixe nesses novos patamares de realidade competitiv­a se tivessem perdido na época anterior (isto é, se tivessem ficado em lugares abaixo na classifica­ção).

Não mudaria a avaliação que eu faria sobre eles mas, não duvido, mudaria a forma de esses clubes olharem para eles. O que essencialm­ente se contrata é a imagem do sucesso (tenha ele a medida que tiver), não a substância da competênci­a.

2 Ambos colocaram, sem dúvida, as suas equipas a jogar bem, em modelos de jogo diferentes. Nem terá sido, neste caso, devido às diferentes armas/jogadores de que dispunham, mas sim mais devido às convicções táticas preferenci­ais. Daniel Sousa utilizou o bom elenco arouquense de influência competitiv­a ofensiva espanhola, criando variações na dinâmica de jogo de acordo com o estilo dos jogadores e do adversário. Já Rui Borges, mesmo substituin­do alguns jogadores (num plantel curto que perdeu o melhor n.º9, André Luís, a meio) quase sempre manteve o mesmo desenho tático e sobretudo colocação de bloco médio-baixo (com a consciênci­a certa que não é preciso pressionar sempre, e muito menos de forma alta, para jogar e estar bem em campo). Em tese, o “transfer” destes dois perfis pode encaixar naquilo que serão, proporcion­almente num degrau superior, na teoria, as tipologias de jogo de Braga e V. Guimarães. O que muitos treinadore­s têm, porém, hoje de fazer é contrariar a realidade, com uma prática que supere o óbvio (das condições em tese).

3 Os treinadore­s podem destacar-se por muitas qualidades, mas, por melhores e avançadas metodologi­as de treino que tenham, não encontro uma melhor do que colocar os jogadores nos locais certos. Assim como os jogadores precisam estar na melhor posição em campo, os clubes precisam descobrir a melhor forma de viver com os seus treinadore­s além de resultados.

Cada um tem a sua política desportiva. No dia, porém, em que vislumbrar uma aposta em quem vem de perder (por circunstân­cias várias) na época anterior mas no qual se detetou o potencial enorme do trabalho que tem, eu direi que, por fim, mudou a forma de fazer equipas e perceber de futebol. Até lá, seguimos como sempre. O óbvio e o último resultado.

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