Uma final que não acabou
Aépoca termina com uma vitória mais do que merecida e que, de alguma forma, atribui algum grau de ajuste ao esforço e compromisso de todos os que entregaram o que tinham e não tinham para ganhar títulos. O equilíbrio salomónico fechou a temporada que, no fim das contas, conheceu 4 vencedores distintos nas 4 competições nacionais, algo nunca visto do ponto da justiça distributiva. Ninguém se pode queixar, mas alguns estão evidentemente mais felizes do que outros.
No Jamor, a vitória do FC Porto não sofreu contestação, tendo sido o espelho do que as equipas trouxeram para campo, nomeadamente com o Sporting profundamente condicionado pela ausência de um guarda-redes de primeira equipa (fragilidade que o FC Porto raramente conseguiu explorar durante o jogo). Provar que fomos melhores do que tudo o que não conseguimos mostrar durante a época e acabar a ganhar um troféu que nos permitisse respirar com alguma esperança maior durante o defeso eram os desígnios do dia. Mas havia mais.
O acto derradeiro encerrava um simbolismo gigante numa final que encerrava muitos finais. Desde logo, o último jogo de Pinto da Costa, o fim de uma era de 42 anos de títulos, mudança e revolução. Depois, por ser o previsível último jogo de Sérgio Conceição, algo que as suas declarações antes do jogo quase clarificaram e que os últimos dias tornaram evidente. Também por ser a primeira final de André Villas-Boas, cuja vitória lhe entregava a possibilidade de mostrar que também enquanto Presidente entra com o denominado “pé quente”. Por último, por permitir que ambos os presidentes erguessem a Taça, lado a lado, numa passagem de testemunho que se queria síncrona, tranquila e vencedora. Felizmente, a vitória sorriu a quem mais fez por ganhar o jogo, expondo-se ao risco embora de forma conservadora. Mesmo contra 10, o FC Porto nunca arriscou em demasia.
Após o jogo, as comemorações no relvado foram longas, como se a equipa quisesse contrariar despedidas. Nos dias seguintes, desperta uma novela que em nada
Seria extraordinário entrar na semana com clareza, certezas e resoluções. E maior recato.
engrandece uma equipa técnica que tantos anos trabalhou em prol do clube e que nos merece um respeito que não nos tolda a estupefacção ao vermos como (quase) todos estão a tratar o assunto na esfera pública. Sou suspeito, por várias vezes nos últimos dois anos, defendi publicamente que a sucessão de Sérgio Conceição no FC Porto deveria ter o nome de Vítor Bruno. Todo este imbróglio entristece e coloca dificuldades adicionais a qualquer solução que venha a ser dada como boa. Seria extraordinário entrar na semana com clareza, certezas e resoluções. E maior recato.