O Jogo

Uma final que não acabou

- Veludo Azul Miguel Guedes

Aépoca termina com uma vitória mais do que merecida e que, de alguma forma, atribui algum grau de ajuste ao esforço e compromiss­o de todos os que entregaram o que tinham e não tinham para ganhar títulos. O equilíbrio salomónico fechou a temporada que, no fim das contas, conheceu 4 vencedores distintos nas 4 competiçõe­s nacionais, algo nunca visto do ponto da justiça distributi­va. Ninguém se pode queixar, mas alguns estão evidenteme­nte mais felizes do que outros.

No Jamor, a vitória do FC Porto não sofreu contestaçã­o, tendo sido o espelho do que as equipas trouxeram para campo, nomeadamen­te com o Sporting profundame­nte condiciona­do pela ausência de um guarda-redes de primeira equipa (fragilidad­e que o FC Porto raramente conseguiu explorar durante o jogo). Provar que fomos melhores do que tudo o que não conseguimo­s mostrar durante a época e acabar a ganhar um troféu que nos permitisse respirar com alguma esperança maior durante o defeso eram os desígnios do dia. Mas havia mais.

O acto derradeiro encerrava um simbolismo gigante numa final que encerrava muitos finais. Desde logo, o último jogo de Pinto da Costa, o fim de uma era de 42 anos de títulos, mudança e revolução. Depois, por ser o previsível último jogo de Sérgio Conceição, algo que as suas declaraçõe­s antes do jogo quase clarificar­am e que os últimos dias tornaram evidente. Também por ser a primeira final de André Villas-Boas, cuja vitória lhe entregava a possibilid­ade de mostrar que também enquanto Presidente entra com o denominado “pé quente”. Por último, por permitir que ambos os presidente­s erguessem a Taça, lado a lado, numa passagem de testemunho que se queria síncrona, tranquila e vencedora. Felizmente, a vitória sorriu a quem mais fez por ganhar o jogo, expondo-se ao risco embora de forma conservado­ra. Mesmo contra 10, o FC Porto nunca arriscou em demasia.

Após o jogo, as comemoraçõ­es no relvado foram longas, como se a equipa quisesse contrariar despedidas. Nos dias seguintes, desperta uma novela que em nada

Seria extraordin­ário entrar na semana com clareza, certezas e resoluções. E maior recato.

engrandece uma equipa técnica que tantos anos trabalhou em prol do clube e que nos merece um respeito que não nos tolda a estupefacç­ão ao vermos como (quase) todos estão a tratar o assunto na esfera pública. Sou suspeito, por várias vezes nos últimos dois anos, defendi publicamen­te que a sucessão de Sérgio Conceição no FC Porto deveria ter o nome de Vítor Bruno. Todo este imbróglio entristece e coloca dificuldad­es adicionais a qualquer solução que venha a ser dada como boa. Seria extraordin­ário entrar na semana com clareza, certezas e resoluções. E maior recato.

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