De pequenino se torce o olhar
A Administração Regional de Saúde do Norte lançou em 2016 o projetopiloto de rastreio visual infantil gratuito, destinado a todas as crianças com dois anos de idade, com repetição entre os quatro e os cinco anos. Os resultados não deixaram margem para dúvidas: 15% das crianças examinadas revelaram problemas oftalmológicos. Mais vale prevenir do que remediar, já diz o ditado.
O rastreio visual infantil é fundamental para detetar eventuais anomalias na visão das crianças, a tempo de as corrigir com sucesso. Entre as mais problemáticas estão a ambliopia e o estrabismo. Muitos pais não sabem ao certo quando levar pela primeira vez os seus filhos ao oftalmologista ou a fazer exames de optometria, mas a verdade é que o rastreio deve ser repetido várias vezes antes dos 10 anos. Com a
supervisão do Ministério da Saúde, que colocou este projeto como uma prioridade de intervenção, o rastreio visual infantil arrancou em quatro ACES da região norte do país, para em 2017 se alargar a toda a região. Para já, segundo Fernando Tavares, coordenador do projeto da ARSN, está previsto o alargamento do programa a oito ACES da região norte, para a médio prazo se alargar a todo o território nacional. “Esta iniciativa vem de encontro ao que está previsto na convenção de saúde, ou seja, dar mais elevação à componente da visão em Portugal. A área de intervenção precoce é fundamental para as nossas crianças, que se refletirá no seu futuro”, declarou o especialista à ÓpticaPro. “Ainda não temos os resultados finais, mas posso adiantar que 15% dos exames demonstraram problemas sérios de visão. Ora, com um diagnóstico precoce é possível resolver determinadas situações. Este rastreio de saúde revestese pois de um enorme sucesso”. Os primeiros anos de vida são marcados por alterações importantes ao nível da visão. Embora o processo se prolongue pela juventude e adolescência, algumas doenças oculares podem deixar lesões irreparáveis se não forem tratadas atempadamente. A partir dos 11 anos de idade, o risco diminui, dado a visão começarse a comportar como a de um adulto. O estrabismo e a ambliopia são algumas das anomalias mais problemáticas nas crianças, sendo que a ambliopia pode mesmo ser provocada pelo estrabismo. A hipermetropia, o astigmatismo e a miopia podem também provocar a ambliopia, caso não sejam tratados atempadamente. Esta é mais uma razão para a importância da realização do rastreio visual nos períodos referidos. Segundo o oftalmologista Walter Rodrigues, “é extremamente importante despistar certas patologias, o que só se consegue com o rastreio infantil, extremismos precoces que as crianças possam ter. Há determinados casos que tenho acompanhado que podem levar a casos de ambliopia graves. Ora, com o rastreio, determinadas patologias podem ser tratadas na sua fase inicial, o que é essencial para o bom desenvolvimento do olho e do próprio cérebro. Detetado a tempo, podemos eliminar o efeito denominado de “olho preguiçoso”. Estes exames são fundamentais, todos os pais se devem consciencializar disso. Por alguma razão é uma das prioridades do Ministério da Saúde neste âmbito”, acrescentou Walter. Matilde Santos, mãe de três crianças entre os 3 e os 10 anos, foi sempre muito atenta à visão dos filhos e, por isso, conseguiu detetar de forma precoce a miopia da filha do meio, Alice, de 7 anos. “Não foi através de um rastreio que percebi que a minha filha via mal, mas acho de louvar esta ações. Nem sempre as crianças se queixam e nem sempre os pais se apercebem que algo está mal, por isso, se houver profissionais a ajudar nessa tarefa é excelente”, diz a professora do ensino básico. E aconselha: “Com os olhos não se brinca e é de pequenino que se ajuda a que pequenos problemas não se tornem casos mais sérios”. Quais os sinais de alerta é uma das principais perguntas que os pais colocam aos médicos oftalmologistas. Segundo o optometrista Luís Alves, “o importante é ter atenção se as
crianças se aproximam muito da televisão, se os olhos estão alinhados, se têm os olhos frequentemente vermelhos ou a lacrimejar, ou mesmo se sentem se os seus filhos têm problemas de concentração. A partir destes sintomas não devem hesitar: é fundamental um exame oftalmológico”. As experiências-piloto de rastreio de saúde visual infantil irão ser alargadas este ano a toda a região norte, segundo Fernando Tavares. “Este modelo de cuidados de saúde primários é de uma importância extrema para os oftalmologistas que tomam posteriormente um veredito no sentido de marcar uma consulta especializada. Os dados que temos até agora dão-nos a garantia que vão resolver os problemas de muitas crianças e isso é o mais importante de tudo. Sem este rastreio isso não seria possível”. O sucesso deste projeto-piloto é tal que, segundo o seu coordenador, se irá alargar mais cedo ou mais tarde a todo o território nacional. “Há uma componente tecnológica que tem de ser feita, mas julgo que as bases estão criadas. Os resultados são bastante animadores”, concluiu Fernando Tavares. As experiências-piloto que arrancaram com estes rastreios foram realizadas nos agrupamentos de centros de saúde do Porto Ocidental, Porto Oriental, Gondomar, Maia e Valongo, com a colaboração da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. Integram ainda estes projetos o Centro Hospitalar de São João e o Centro Hospitalar do Porto.
Fernando Tavares