Os dias sem rede

Estou a escrever-vos esta crónica a partir de uma biblioteca. Vocês sabem, aqueles sítios onde podemos ler montes de livros de borla. No entanto, não estou aqui pelos livros, mas pelo Wi-Fi grátis. Dito assim parece um desperdício porque gosto mesmo muito de livros (e não preciso de net para os usar), só que estou com um problema logístico. Eu usava a ligação do vizinho, ou melhor, da FonZon, o serviço de partilha de rede para clientes Zon, à qual tinha acesso através dos dados cedidos por um amigo. Mas há já cinco dias que a FonZon desapareceu da lista. Há cinco routers disponíveis, mas nenhum partilha net com esse serviço. O mundo está mesmo cheio de gente egoísta. E agora tenho de ir para cafés ou trabalhar a horas normais na biblioteca. Como estou de passagem na casa onde vivo agora não quero fazer contratos com ninguém e a net móvel é demasiado cara e limitada. Entretanto, comecei a tentar crackar os routers da vizinhança. Vou arquivar esta actividade como “investigação dos níveis de segurança das redes caseiras”. 40 milhões de passwords mais tarde, os routers estão a ganhar. Preciso de estar ligado nem que seja porque tenho uma coluna sobre as redes para escrever todos os meses, falar com gente que não está cá e de quem gosto muito ou ler artigos da NewYorker e outras coisas que só apanho online. Estar conectado é uma necessidade básica e devia ser grátis. Depois da Saúde e do Ensino, claro. Sabem aquele pessoal que tira férias da Internet e depois bloga sobre isso? Agora tenho a certeza de que são uns parvos. Tenho amigos que usam o computador para ir ao e-mail e pouco mais. Não têm conta em redes sociais, usam a net para ver horários de transportes, fazer marcações online e planear coisas no mundo real. Dizem que são felizes. Pois: parvos. Sem Internet a minha vida não é melhor ou mais fácil, só um pouco mais deprimente. Vou ter de subir as escadas e falar com o vizinho sobre definições de segurança e partilha de sinal. Pelo menos fica mais perto do que a biblioteca.