OS U2 E O PECADO ORIGINAL
A Apple aproveitou a apresentação dos novos iPhone e iWatch (não, não está enganado), para oferecer o último álbum dos U2 à borla a todos os detentores de qualquer iDispositivo. Diz-se mesmo que toda esta generosidade lhes custou mais de 100 milhões de dólares. O problema é que, no universo de utilizadores de iDispositivo, se calhar há menos fãs de U2 do que a Apple (e os U2) pensava qua havia. As críticas não tardaram e, antes que a coisa tomasse proporções maiores, a Apple lançou um serviço online que permite às pessoas remover o álbum das suas listas de compras. Efectivamente este problema é mais complicado do que parece à primeira vista: um utilizador que tenha os downloads automáticos ligados recebe tudo assim que sai, incluindo o álbum dos U2 de que pode não gostar. Mesmo que o remova do dispositivo fica sempre no histórico de compras do iTunes, o que faz com que, por exemplo, se fizer um reset ao dispositivo e recuperar os conteúdos vai levar outra vez com os U2. E por fim, pela sua na natureza, um iDispositivo é para leigos da tecnologia que em muitos casos não fazem a mínima ideia de como se removem conteúdos das suas contas e dispositivos. Mas, na minha opinião, o problema real não é tudo o que descrevi nos parágrafos anteriores, é constatar que realmente não temos o mínimo controlo sobre o que nos entra pelas nossas contas de utilizador e dispositivos dentro. Os U2 decidiram ceder ao pecado original e dar uma dentada na maçã do lucro fácil e seguro e correu mal. Esperemos que isto sirva de lição para o futuro. Por falar em iWatch, a Apple chegou tarde, tem um software interessante, mas se o Steve Jobs fosse vivo, o produto, como está neste momento, nunca seria apresentado ao público.
Este foi o mês das novidades, apresentadas tanto na IFA (feira de tecnologias de Berlim) como na Photokina (feira de imagem
Bianual de Colónia), mas a realidade é que ficámos um pouco desiludidos com as novidades,
pois não assistimos a nada de verdadeiramente revolucionário.
É certo que encontrámos mais equipamentos compatíveis com a norma 4K (UltraHD), como
televisores e câmaras, mais ecrãs curvos e muitos wearables (relógios e pulseiras electrónicas). Como tal decidimos escolher as novidades que nos conseguiram despertar a curiosidade e reuni-las num artigo que basicamente determina quais os produtos que mais desejamos encontrar à venda no mercado. Tivemos ainda algumas novidades quanto a lançamentos, como os novos dispositivos da Apple, e muitos equipamentos novos para teste na secção LAB, como o novo processador topo de gama da Intel, novos smartphones, novas
câmaras, tablets e algumas soluções engenhosas como o disco SSD Wi-Fi da Toshiba, algo que tem sido, desde então,
indispensável para as minhas deslocações para o estrangeiro. Quanto a automóveis, este foi um mês muito especial, pois tivemos desde o impressionante BMW i8, que embora seja um automóvel
apaixonante, me deixou um pouco de pé atrás; tivemos um
modelo híbrido da Volvo que nos surpreendeu bastante, e o fenomenal Mercedes-Benz GLA
45 AMG, um desportivo puro e duro a gasolina que acabou por se revelar o automóvel mais divertido
que experimentei nos últimos meses. Não posso deixar de falar no comparativo de soluções de armazenamento na nuvem, que foram recentemente melhoradas
com preços mais acessíveis e capacidades mais elevadas. Foi um grande mês para quem gosta de
tecnologia como nós!
Confirmando todos os medos dos amantes de tecnologias e em especial dos que gostam de actualizar com frequência a sua parafernália de gadgets, a Lei da Cópia Privada foi aprovada! Existem várias coisas que não fazem muito sentido nesta lei… O espaço de armazenamento do smartphone será taxado porque pode ser utilizado para conteúdos protegidos por direitos de autor. Até pode ser uma realidade, mas o mais provável é que este espaço seja preenchido com fotografias e vídeos do filho, do tio, da avó, do cão, etc. Momentos que são, obviamente, pessoais! O mesmo acontece com os cartões de memória. Compro um cartão para a máquina fotográfica, supostamente para tirar fotografias, mas tenho de pagar mais um bocadinho, porque como eles não sabem onde vou usar o cartão, preferem prevenir e cobrar-me logo. Não é que o valor seja absurdo ou elevado, é uma questão de princípio. Porque é que tenho de pagar mais por causa de um “princípio da universalidade” que pressupõe (de modo ofensivo) que faço cópias de conteúdos protegidos? Eu, que já só utilizo serviços de streaming para ouvir música, seja no computador ou no smartphone. O conceito é semelhante ao do pré-crime do filme MinorityReport, em que antes de cometer o crime já estavam presos, até ao dia em que afinal a previsão estava errada… Decorre uma petição online contra a nova Lei da Cópia Privada, por isso, se é contra, pode deixar o seu contributo em bit.ly/YMVpFx. Uma pequena referência ao lançamento dos iPhone 6 e 6 Plus: esperava muito mais de uma empresa que há uns anos estava anos-luz à frente da concorrência no que diz respeito ao design. Mas como ainda não experimentei o novo smartphone da Apple não ponho de lado a possibilidade de no seu interior se encontrar uma máquina fenomenal, só que tenho muitas dúvidas disso.
A capa da revista norte -americana Time de Setembro alerta para uma realidade que tanto tem de inovadora como de assustadora: Never Offline (em tradução livre, e extrapolando um pouco, “nunca estaremos desligados da rede”). Não é difícil imaginar no futuro próximo um mundo dominado por sensores ligados à Internet que vão passar o dia (e a noite) a recolher dados sobre a nossa actividade e a fazer estatísticas sobre o nosso desempenho. Vamos passar a saber qual foi o dia em que o coração bateu mais vezes, o dia em que demos mais passos e menos comemos, as calorias que entraram no corpo e as que não saíram por ficarmos sentados no sofá a comer pipocas e a ver um filme. Esperem lá. Afinal isto já é possível. A culpa é das pulseiras de fitness, das apps para smartphone e, claro, dos relógios inteligentes que chegaram em força este ano para tornar a nossa vida num BigBrother da Medicina e do Desporto. Se abrandamos, recebemos um alerta a dizer que é preciso dar corda aos sapatos para andar mais 10 quilómetros para atingir o objectivo diário. Pode até acontecer o inesperado: durante um jantar com a pessoa amada, o relógio vibra – o coração está a bater demasiado depressa, é preciso parar de correr e descansar. E parar de beber esse Pêra Manca imediatamente, pois a quantidade de álcool no sangue está a aumentar drasticamente. O mundo cheio de sensores deverá ser, até prova em contrário, uma chatice. Essencialmente, deixamos de ser humanos para passarmos a ser escravos da tecnologia. Quem previu um mundo dominado por robôs, enganou-se. É muito mais fácil transformar uma pessoa dependente de alguma coisa do que criar inteligência artificial para fazer a mesma coisa.