HIGH-TECH GIRL
Queria ser astronauta mas optou por querer mudar o mundo tendo a tecnologia como ferramenta. Escolheu a carreira de consultora tecnológica, profissão capaz de modernizar e mudar serviços que nos afectam a todos. Hoje, na Microsoft, o seu papel é garantir
Este mês a High-Tech Girl entrevistou Sandra Miranda Ferreira, Chief Techology Officer da Microsoft.
O QUE É QUE ESTUDOU?
Engenharia Aeroespacial, no Técnico, porque queria coisas diferentes, tecnologia de ponta. Queria ser astronauta. Na altura, o Espaço era a última fronteira. Mas depois, quando tinha 17 anos, tive a sorte de passar um ano fora e percebi o verdadeiro significado da palavra ‘emigrar’. Apesar de não querer sair do País, decidi concluir o curso. A seguir, entrei para consultoria tecnológica e fui tentar mudar as coisas com a arma mais disruptiva dos dias de hoje: a tecnologia, a evolução tecnológica. Nesta área eu conseguia mudar, melhorar, modernizar instituições de saúde, Câmaras, a Segurança Social... senti que no meu pequenino papel estava a mudar um bocadinho do meu mundo.
FOI UM CAMINHO SOLITÁRIO?
Em nenhum dos passos do percurso havia muitas mulheres. No Técnico não senti nenhuma discriminação, mas senti-me um bocado mais sozinha. Passei de um certo equilíbrio no liceu, em que havia menos mulheres que homens nas áreas de Física e Matemática, mas eram números muito equilibrados, para uma realidade muito desequilibrada. Mas isso acabou por me preparar para o ambiente de trabalho. A nível profissional, estive em multinacionais, empresas preocupadas em não permitir que questões de desigualdade lhes retirassem talentos. Se virmos na perspectiva de uma empresa, as diferenças ditam que se eu conseguir aproveitar o talento mais diferenciado possível, consigo aceder a um público mais vasto e isto é uma forma de aumentar a competitividade. E quando a base é essa, não só estou a contribuir para a sociedade, como para o meu próprio sucesso empresarial. Tive a sorte de escolher empresas que acreditavam nisso como princípio ético. Assim, a minha preocupação era ser cada vez melhor naquilo que fazia e não a de ter de estar a afirmar que por que sou mulher também posso fazer isto ou aquilo. Um esforço inglório, mas que sabemos que ainda existe.
COMO É TRABALHAR NA MICROSOFT? A Microsoft tem uma visão que hoje é das mais disruptivas em termos tecnológicos. Numa dada altura tornou-se uma empresa menos ‘cool’. Mas está numa transformação tecnológica profunda e a tornar-se novamente uma empresa apetecível. Estamos numa realidade em que as empresas têm um tempo de vida cada vez mais pequeno e que, para sobreviverem, têm de se reinventar. E a tecnologia é uma arma de reinvenção muito boa. Esta proposta de valor da Microsoft é, em si mesma, disruptiva e permite-nos fazer coisas fantásticas no mercado. Portanto, eu continuo a adorar. O QUE DIRIA ÀS JOVENS QUE AGORA ESTÃO A ESCOLHER QUE CARREIRA IRÃO SEGUIR? Acredito que as pessoas devem apostar nos seus talentos e nem todos têm os mesmos
O QUE QUEREM AS MULHERES?
Lá se convencionou que a cor mais feminina do mundo era o cor-de-rosa. E cada vez que se quer fazer alguma coisa a pensar nas mulheres, ou seja, transformar um produto tido como masculino em feminino, o que é que fazem? Desenham um produto cor-de-rosa! Já tive menos paciência para o rosa e acho que os designers felizmente também começam a buscar tons rosados mais interessantes. Algum dia havemos de nos encontrar de forma serena. Até lá, deixo aqui algumas sugestões sobre o que é que as mulheres querem. É simples: produtos práticos e objectivos, que facilitem realmente as suas vidas. Ou produtos bonitos, com design actual, que tragam valor acrescentado ao seu estilo. E sejam quais forem as suas funcionalidades, tudo tem de ser comunicado com clareza, muita clareza. Quero com isso dizer que todas as suas vantagens devem vir apresentadas no próprio produto ou em instruções simplificadas e realmente elucidativas. As mulheres não querem perder tempo com calhamaços explicativos (nem os homens querem!), têm medo de fazer experiências e não aceitam, em hipótese nenhuma, partir unhas para abrir o que quer que seja. Já está! talentos. Mas também acredito que a tecnologia é hoje, e será ainda mais no futuro, uma ferramenta fundamental em qualquer profissão. Há uns anos olhávamos para a tecnologia como uma escolha, mas hoje a sua utilização é uma inevitabilidade. Perante isto, penso que vamos assistir ao aumento transversal das capacidades tecnológicas em todos os cursos, pois é uma ferramenta para saber o que se passa, para analisar dados, para descobrir inovações, para despertar talentos, para tudo. O sector da tecnologia tem, hoje, pleno emprego em Portugal, ao contrário de muitas áreas. E prevê-se que, quer em Portugal quer na Europa, no espaço de cinco anos, serão mais de 700 mil posições que vão estar por ocupar se a formação tecnológica se mantiver nos níveis que temos hoje. É difícil ignorar esta tendência. Portanto, se eu estiver verdadeiramente indecisa e não tiver um talento em que queira apostar, provavelmente vou ter mais facilidade em descobrir um caminho, se enveredar por algo com uma forte componente de tecnologia. Isto irá abrir mais horizontes de escolha. E se conseguirmos aliar a tecnologia ao que gostamos mesmo de fazer, estamos a criar novos negócios, novas formas de olhar para as coisas.