Siri, Cortana e M entram num bar…
… ou «dos chatbots aos androides com quem podemos falar». Parece que a nova tendência é falar com os nossos aparelhos eletrónicos. Isso, não através deles, mas com eles. Já falei aqui da possibilidade de podermos conferenciar com o nosso frigorífico, máquina de café, com os nossos carros, apartamentos, enfim, a Internet das Coisas. Falei também da relação que poderemos ter com assistentes virtuais, como pudemos ver no filme Her, com todas as ambiguidades, projecções e questões de identidade e relacionamento interpessoal que levantam. E a forma como vamos falar com eles é o velhinho chat, a grande aposta como interface de utilizador das grandes empresas digitais. O Facebook está já desde o ano passado a desenvolver o M, uma espécie de assistente virtual que vive no Messenger, e que trata de resolver problemas por nós: um dos utilizadores-teste conta num artigo que precisava de bilhetes para um filme. Em vez de percorrer sites inteiros ou deslocar-se à sala de cinema, pediu-os ao M que, em poucos passos, os enviou para o e-mail. Como descreve outro autor de um artigo sobre os chats como interfaces, vamos passar a falar com a nossa conta bancária em vez de falar com o nosso banco, o que me parece uma excelente ideia. Voltando ao frigorífico: quero fazer uma paella? Ele encomenda os ingredientes que faltam e ainda tem a receita pronta para eu a seguir. Esqueçam as apps de entregas de comida ao domicílio. E se o M existe, como resposta de Zuckerberg à Siri e à Cortana, então é para levar a sério. Um dos problemas que se levantam é a qualidade do discurso destes assistentes. Será que terão um sentido de humor satisfatório e uma eloquência acima da média? Ou serão limitados, como aqueles jogos de texto, em que tínhamos que descobrir as instruções exactas para avançar na história? Eu gostava de ter um assistente cujos diálogos fossem escritos pelo Aaron Sorkin. Ou pelo Woody Allen. Ora aí está uma nova profissão: guionista de bots. Se pensam que estou a exagerar, saibam que já há robôs com sentido de humor. Chamam-se Geminoids e conseguiram arrancar gargalhadas ao público de uma conferência no SXSW, em Austin. Mas como tenho um sentido de humor um pouco duvidoso, fico à espera que alguém contrate os guionistas do filme Deadpool.