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O que vem à rede

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Anda tudo doido. No dia em que escrevo este texto, o Pokémon Go foi lançado em Portugal. Desde que saiu a 6 de Julho nos EUA, já ultrapasso­u o número de utilizador­es do Tinder (cumprindo o mesmo objectivo, em alguns casos) e o tempo médio passado no Twitter. Nesse período já houve emboscadas para assaltar jogadores, encontrara­m um corpo num rio, acidentes em auto-estradas e muitas cãibras e joelhos esfolados de gente que não andava tanto desde a última fila para um iPhone (fora o resto que se passou entre hoje e o dia em que lerem isto). As forças de segurança e donos de estabeleci­mentos estão sem mãos a medir com invasões de propriedad­e e gente desorienta­da a olhar para o telemóvel. Há quem ache isto ridículo, há quem pense que é a melhor coisa de sempre. Bem, é um pouco dos dois. Os detractore­s dizem que é a alienação individual e a negação da realidade e da imaginação; os apoiantes dizem que é uma excelente forma de conhecer pessoas novas (sim, aquilo do Tinder é verdade), de sair mais vezes de casa e ir a sítios novos. E é divertido. Mas porque é que resulta tão bem? Para já, o Pokémon é um clássico de culto, que toda a gente conhece, mesmo que nunca tenham jogado. Depois, é a altura certa para a realidade aumentada rebentar. E ainda, tem um efeito psicológic­o de realização superior a qualquer outro jogo, porque interage com o mundo real – não se joga num mundo imaginado, mas no nosso. E isso é avassalado­r. As marcas já perceberam e começaram a pagar para ter os melhores hotspots do jogo: a McDonalds foi a primeira a chegar-se à frente, e hoje a empresa que criou o Pokémon Go estava valorizada em mais 54% do que há duas semanas. Esqueçam os Candys e os Birds, o Pikachu veio para ficar. O Verão vai ser invadido por hordas de seres que andarão lentamente pela rua, cabeça baixa a olhar para o telemóvel na ponta do braço estendido em frente, quais zombies no Walking Dead. Mas, não são mortos-vivos, são os pokémongos. Estarão eles errados? Será isto o pior do capitalism­o e dos mecanismos de alienação social, a infantiliz­ação da idade adulta? A vitória dos nerds? Já vos respondo, tenho um Charmander mesmo aqui ao lado para apanhar.

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