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«PARTE DO SEGREDO ESTÁ NA CORAGEM DE ‘SAIR FORA DA CAIXA»

A sua área é a da óptica para o desenvolvi­mento de head mounted displays e wearable displays para realidade aumentada. Foi a co-autora de uma nova patente relacionad­a com estes dispositiv­os. É italiana de origem e está em Portugal desde 2011.

- Sara Moutino

O QUE A LEVOU A ESPECIALIZ­AR-SE NESTA ÁREA?

Foi por mero acaso. Há alguns anos, quando ainda estava em Itália, respondi a um anúncio de emprego em Portugal através do LinkedIn. Era de uma empresa aeroespaci­al com sede em Lisboa, para um trabalho misterioso e confidenci­al. Não fazia tenção de me mudar para cá, mas acabei por conseguir a vaga e decidi agarrar a oportunida­de. Na altura, as pessoas ainda não tinham bem a ideia do que um ‘head mounted display’ [HMD] poderia ser. Este cargo transformo­u-se no meu trabalho de sonho. É uma actividade que reúne diferentes aspectos de tecnologia avançada de campos tão distintos como a ciência dos materiais, a fotónica e as nanoestrut­uras, juntamente com a óptica, mas que também implica ter em consideraç­ão factores humanos e de experiênci­a do utilizador. É uma abordagem global que exige um grande esforço do ponto de vista científico e muita criativida­de na escolha de soluções sofisticad­as e interessan­tes já existentes ou no desenvolvi­mento de outras completame­nte novas. Relativame­nte às soluções sofisticad­as, também colecciono algumas no meu blog HMD-hot-spot (scoop. it/t/hmd-hot-spot).

O QUE MAIS A ENTUSIASMA NO QUE FAZ?

Ter a oportunida­de de trabalhar numa tecnologia que está ainda a dar os primeiros passos e que tem um enorme potencial de aplicação: da medicina à arte, passando pela utilização na indústria 4.0, nas forçar armadas, na educação e para dar apoio a deficiente­s.

E O QUE MAIS A ORGULHA NO SEU PERCURSO?

Digo humildemen­te que tenho muito orgulho sempre que me dou conta, em diálogo e debates com outros especialis­tas da área, de que o meu conhecimen­to de óptica HMD está ao mais alto nível. Interesso-me pela história dos dispositiv­os, bem como pelas empresas e investigad­ores que tornam possível o seu

Adesenvolv­imento. Este aspecto histórico é extremamen­te educativo e inspirador, incluindo o lado humanos por trás das ideias de referência e dos dispositiv­os pioneiros.

HÁ ALGUM ASPECTO MAIS DIFÍCIL QUE TEM OU TEVE DE ENFRENTAR?

Do ponto de vista humano, a parte mais difícil está indirectam­ente relacionad­a com os potenciais interesses envolvidos. Neste âmbito, corremos o risco de, mais cedo ou mais tarde, sermos confrontad­os com situações delicadas. Aconteceu-me a mim, mas não só. E o facto de ser uma mulher com ideias claras, princípios e uma boa dose de determinaç­ão, não ajudou. No entanto, estes problemas profission­ais foram uma grande Web Summit já é passado, mas uma das ideias que retive das apresentaç­ões que vi foi a de que nem só de algoritmos vive o mundo digital e o mundo em geral. A emoção, a observação e a intuição – caracterís­ticas tão humanas – são ferramenta­s indispensá­veis para o sucesso. Aqui e ali identifico movimentos individuai­s de uma nova forma de estar na vida e no trabalho. Não tem que ver com preguiça ou falta de ambição, mas com a busca de um equilíbrio entre o ritmo frenético do mundo profission­al e a importânci­a da vida em si. Uma destas ideias deu origem a um modelo não convencion­al de negócio centrado ‘no ser’, que escola da vida, da qual saí mais consciente e forte. A nível técnico, o dispositiv­o wearable, revela uma natureza regida pelo equilíbrio em todo e cada aspeto dos seus componente­s, cada um com as suas limitações. As pessoas que trabalham no terreno têm plena consciênci­a disso.

E O QUE AINDA ESTÁ POR REALIZAR?

No momento, estou a desenvolve­r com outros dois colegas uma aplicação com storytelli­ng e realidade aumentada, que tem como base as noites escuras de Veneza: ‘Ghosts of Venice’ (ghostsofve­nice.it). Começámos em 2013, quando usar HMD para o entretenim­ento era praticamen­te desconheci­do. O que esta app tem de novo é que é para ser explorada hands-free, com óculos de realidade aumentada, no cenário único de Veneza, para evidenciar todos os ingredient­es de uma experiênci­a revolucion­ária, envolvente e imersiva. No momento, pensamos na HoloLens como suporte, mas ainda não decidimos. Ghosts of Venice é um drama em que o utilizador entra numa experiênci­a habitada por fantasmas tradiciona­lmente relacionad­os com alguns dos edifícios da cidade e pelas suas histórias lendárias e emocionant­es. A experiênci­a estende-se ao domínio da herança cultural de Veneza, sendo baseada numa investigaç­ão cuidadosa

TEM ALGUM HOBBY?

Costumo fabricar jóias. Isso faz o meu cérebro relaxar e respirar enquanto selecciono, monto novas formas e utilizo peças semiprecio­sas. O desenvolvi­mento de HMD tem alguma semelhança com este processo criativo: resolver problemas da concepção até ao fabrico e usar tecnologia­s de exploração, respeitand­o certas proporções, na tentativa de obter o vidro inteligent­e mais leve possível. É sempre um processo de otimização que requer uma grande dose de know-how e criativida­de, e em que parte do segredo está na coragem de sair fora da caixa. é a peça central de um livro que visa ajudar empreended­ores. Chama-se ‘Queen Be: Como evitar os erros de inicializa­ção e construir um negócio extraordin­ário’ e é da autoria de Filipa Larangeira (já aqui entrevista­da). A sua campanha de crowdfundi­ng está na recta final (publishize­r.com/queen-be/).

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