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10 anos

- PEDRO ANICETO aniceto@mac.com

Quando fui avô pela primeira vez, o meu sentido de proporções do tempo, mudou. É um fenómeno do qual só tomamos consciênci­a quando ocorre e para ocorrer alguns alinhament­ostos planetário­s têm de acontecer. Num ápice, os meses escorrem e transforma­m-se em anos. Passa a ser tudo, primeiro muito a correr, depois demasiado a correr. A maioria dos avôzinhos que me lê sabe exactament­e o que estou a dizer. Os restantes sorrirão condescend­entes. Pois bem, tenho novidades para este último grupo. Há poucos dias passaram dez anos sobre o anúncio do iPhone original. Ah, pois foi… onde é que está o vosso sorriso agora? Dez anos, valha-me S. Steve Jobs! (não, ainda não foi canonizado mas acredito que tenha sido só por haver uma marca na palavra…). Sim, parece que foi ontem que nos gabávamos de ter no bolso telefones operados com stylus, ou pior, Nokias cuja bateria durava, imagine-se, uma semana. Uma semana, viram? Mesmo que telefonáss­emos a três páginas de lista telefónica de páginas brancas em papel. Bons tempos, esses, em que os vendedores de castanhas não tinham de comprar embalagens assépticas… Passaram dez anos sobre a reinvenção do telefone móvel. As nossas vidas não voltaram a ser as mesmas, para melhor ou para pior. Se bem se lembram, em França discute-se neste momento a possibilid­ade de um trabalhado­r se “desligar” por completo do seu trabalho durante as suas horas de descanso. Eu não sou grande exemplo, porque sou um agarradinh­o telefónico. Dependo dele para quase tudo. A última vez que precisei de um número e me socorri unicamente da memória, foi para chamar o 112 durante uma desgraça. O resto está tudo dentro de um pedaço de sílica, vidro e metal que não perco de vista senão quando estou a dormir. Tenho consciênci­a desta dependênci­a, mas acho-a saudável seja em trabalho ou lazer. Outros dirão o contrário e dele farão uma utilização mais regrada, dirão até mais saudável. Nem tudo são rosas, as ferramenta­s que servem o bem também alimentam as maquinaçõe­s do mal. Dez anos depois, o florescime­nto de aplicações e das ideias que lhes servem de base não param de me (nos) surpreende­r. É um privilégio poder viver estes tempos (provavelme­nte o meu avô disse o mesmo ao ver uma ceifeira mecânica…).

Passaram dez anos sobre a reinvenção do telefone móvel. As nossas vidas não voltaram a ser as mesmas, para melhor ou para pior.

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