“O PORTUGUÊS TEM UM ADN FANTÁSTICO PARA O SOFTWARE TESTING”
Descobriu esta especialidade por acaso, mas revê-se nela por completo. De tal forma que ajudou a fundar a Associação Portuguesa de Testes de Software (PSTQB), da qual é presidente, para apoiar os profissionais da área e trabalhar para ver a carreira evolu
QUERIA PILOTAR AVIÕES, POR QUE OPTOU PELAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO (TI)?
Na altura era muito difícil. A única hipótese era ingressar na Força Aérea, mas só abriram o acesso às mulheres na vida militar quando eu já estava nas TI e gostava do que fazia. Decidi ir para as TI porque, muito antes de entrar para a faculdade, tive a felicidade de ter tido um maravilhoso Spectrum, não tanto para jogar, mas para fazer pequenos programas. Era fantástico como a máquina reagia só com umas linhas de código.
SÃO 19 ANOS DE EXPERIÊNCIA. COMO COMEÇOU?
Estudava Engenharia Informática à noite e durante o dia trabalhava. No início eram tarefas mais banais de tratamento de dados, mas depois passaram a ser um pouco mais profissionais no âmbito do levantamento de requisitos, definição de projectos e a própria gestão. Aí percebi que não queria programar.
O QUE É QUE QUERIA?
Gostava de fazer as coisas acontecerem. É aquilo a que chamamos análise de requisitos. Já o Software Testing é algo muito específico. Ainda mais do que fazer acontecer, é certificar que o que acontece é aquilo que efetivamente queremos.
COMO FOI PARA ESTA ÁREA ESPECÍFICA?
Completamente por acaso. Num dos meus primeiros empregos, numa software house, fazia alguns testes ao produto antes de ele sair para o mercado. Como tinha de preparar as formações, tinha de ver se estava tudo ok. Mas fazia-o completamente ad hoc. Entretanto, tive o meu filho e não trabalhei por uns tempos. Quando voltei ao mercado, houve uma empresa que se interessou pelo meu CV porque coloquei que tinha feito esses testes a softwares. Foi o meu primeiro contacto com o Software Testing. Uma das coisas que me cativou no trabalho foi a diversidade. Era uma consultora e tinha a possibilidade de testar várias coisas diferentes: aplicações variadas de negócios diversificados. E isso dava-me acesso a imensa informação, imensas coisas novas.
E NA SIEMENS, O QUE FAZ EXACTAMENTE?
Com a minha equipa, trabalhamos para os colaboradores e não para os clientes. São milhares de profissionais. Tem de haver sistemas, por exemplo, para gerir a carreira destas pessoas, a mobilidade, para não falar das viagens. Tudo perfeitamente automatizado. E o nosso papel é dar apoio para que estes sistemas funcionem.
É PRESIDENTE E UMA DAS FUNDADORAS DA PSTQB. COMO SURGIU ESTA ORGANIZAÇÃO?
Cá não existia quem cuidasse destes profissionais. Não era uma carreira conhecida, nem um perfil muito procurado. Nós, que estávamos nesta área, pensávamos que devia haver algo que nos unisse e que nos pudesse fazer crescer como um todo em vez de estar cada um por si. O objectivo da PSTQB é difundir a carreira de tester no país, promover o conhecimento entre os profissionais e trazer Portugal para o mapa-mundo do Software Testing internacional, coisa que já conseguimos.
HÁ MUITOS TESTERS A SAIR DO PAÍS?
Sim. E muitas empresas a virem para Portugal à procura destes profissionais, porque o português tem um ADN fantástico para esta atividade. Não se fica só no essencial e não segue o processo só porque sim. Faz perguntas.Um bom tester tem de ser uma pessoa extremamente paciente, curiosa, flexível, e ter um conhecimento diversificado em termos de tecnologia e de negócio.
HÁ MUITAS MULHERES NESTE UNIVERSO?
Sim. No início eram muito mais mulheres que homens, porque era um trabalho muito manual. Hoje, com a evolução das tecnologias, mudou. Isso traz muitos homens, que vão conhecendo a vastidão do que é o software testing e acabam por ficar e abandonar o desenvolvimento puro e duro.