DEFEITOS ESPECIAIS
O Ricardo Durand disserta sobre as «Minidesilusõezinhas» que afectam muitas pessoas que escrevem sobre tecnologia.
Muitas marcas conquistam quem trabalha em blogues ou órgãos de informação registados na ERC com prendinhas ao longo do ano. Há jantares e almoços onde raramente se sai de lá de mãos abanar e viagens de dois ou três dias onde estada e comida ficam à conta de quem convida. A prática é condenável? Do ponto de vista das marcas, percebe-se a deferência: mimar um jornalista é tê-lo como parceiro na promoção de um produto; do ponto de vista do jornalista, a coisa complica-se. Sentir-me-ei obrigado a dizer bem de determinado produto, depois de ter sido tratado principescamente com hotel e viagem pagos? A resposta é, obviamente, não. Infelizmente, o trabalho dos jornalistas que se comportam de forma honesta para com os seus leitores e que se conseguem distanciar das situações é cada vez mais difícil. Aquilo a que se chama ‘ter boa imprensa’ não tem de ficar dependente da prenda e das miniférias pagas em algumas das principais cidades europeias; tem de ver com o comportamento das marcas, com a forma cordial como é construída uma relação entre media e empresa. Tudo o resto é entrar num terreno pantanoso de onde raramente se consegue sair. Aprendi isto ao longo dos anos e, por isso, quando vejo situações em que há “profissionais” da escrita que passam o ano a lamber as botas às marcas (para conseguir o bilhete dourado, sempre que há uma viagem mais apetecível) e depois ficam em terra, dá-me vontade de rir. De rir e chorar, porque é este tipo de gente que mina a credebilidade de quem faz um trabalho honesto, que critica negativamente quando é preciso e que elogia quando se justifica. Uma coisa é verdade: nunca dá bom resultado passar o ano a trabalhar para a prenda e enganar os leitores, falando sempre na primeira bolacha do pacote como se fosse a última.