ENTREVISTA
Catarina Campino, Head of Detail na Academia de Código, é a entrevistada deste mês.
COMO CHEGOU À ACADEMIA DE CÓDIGO?
Fiz uma carreira em artes e depois tive uma breve passagem pelo mundo do Hip Hop, entre muitas outras coisas. Foi o Hip Hop que me aproximou do Domingos Folque Guimarães e me levou a trabalhar com ele na Live Content, onde comecei simplesmente por falar com as pessoas. Todos os dias sentava-me ao lado de alguém, perguntava quem era, o que estava a fazer, e, sem querer, rapidamente comecei a ter ideias e a contribuir para a empresa. Há duas coisas que faço compulsivamente: aprender e ter ideias. Um dia o Domingos disse-me: «Agarra nas tuas coisas e vem comigo». Ia criar uma nova startup, a Academia de Código, e achava que eu era perfeita para trabalhar lá.
E A TECNOLOGIA?
No início, ninguém sabia programação. O Domingos era de cinema e gestão, o João Magalhães das finanças “hardcore” e eu das artes. Na Start Up Lisboa tínhamos as melhores cabeças tecnológicas mesmo ao nosso lado. Decidi então convidá-los através de um email com a pergunta: «Se tivesses 14 semanas para converter pessoas desempregadas à programação, que linguagem usarias?» Pensava que seria uma coisa simples, um encontro de meia hora ou pouco mais. Mas não. Durou seis ou sete horas e descobri o lado apaixonado da tecnologia. Cada um defendia a sua linguagem, um bocadinho como se defende o Sporting e o Benfica. A quantidade de informação que obtive nesse dia foi incrível. Deu-me a base para começar o estudo por mim. Os demais fundadores tinham de se preocupar com o financiamento e a estruturação da empresa; euencarreguei-me desse trabalho, de entrar por uma cultura completamente nova adentro. Depois, o Rui Ferrão juntou-se a nós. Ele é o nosso Master Coder e CTO. O tom da Academia de Código é a fusão da paixão do Rui pela programação e da minha disruptividade e vontade de aprender.
QUAIS OS PRINCÍPIOS DA ACADEMIA?
O projecto surgiu quando o Domingos e o João perceberam que havia imenso desemprego de qualidade em Portugal. Cabeças incríveis das quais o mercado não precisa. Um desperdício de talento! Ao mesmo tempo, perceberam que havia uma área com desemprego zero: a programação. E pensaram: «Será que não dá para converter essas pessoas e arranjar-lhes um emprego?» Criámos, então, bootcamps que, em 14 semanas, transformam essas pessoas em junior developers. Chamamo-las ‘padawans’, porque temos muito respeito pela carreira de programador e sabemos que, com três meses e meio, não se cria um junior developer, mas sim um grande “aprendiz” de jedi. Há outros bootcamps no mercado, para empreendedores e não só, mas esse é para desempregados. Está no nosso coração salvar pessoas. Ensinamos Java e Java Script mas, acima de tudo, ensinamos a aprender. Nessa profissão a aprendizagem é constante. E os nossos padawans têm tido um sucesso brutal: estamos com uma empregabilidade muito perto dos 100%.
FAZEM ALGO EM ESPECIAL PARA CHEGAR ÀS RAPARIGAS?
Desde o início, discutimos se deveríamos promover algum tipo de discriminação positiva em relação às mulheres. Não achei uma boa ideia. Considero isso ofensivo. Como mulher quero ser avaliada com base no meu trabalho e no meu mérito. Assim, não o fizemos. Mas mandamos-lhes sinais de que este ambiente é ‘friendly’, humanista, bem-humorado e de inclusão.
E ELAS TÊM CAPTADO A MENSAGEM?
Sim. São menos que os rapazes, têm todas personalidades diferentes, mas fortes. Sabem muito bem o que querem. Sou cada vez mais contactada por empresas que dizem claramente que procuram mulheres, porque querem diversidade. Digo-lhes que as vão levar não por serem raparigas, mas por que são realmente boas.