O que vem à rede
10 anos
A 9 de Maio fiz dez anos de Facebook. Será tempo perdido? Ao fim de uma década na rede das redes sociais, reflecti sobre o que andei a fazer este tempo todo. É um hábito que se ganha quando se está a ficar velho e, porque alimentei o monstro durante um quarto da minha vida, achei que era boa altura para analisar os ganhos e as perdas desta relação. Primeiro, vi que entrei no Facebook seis meses antes de entrar no Twitter. Mas o Twitter dava mais gozo por ser anárquico, curto, dado à partilha, ao debate e ao relacionamento fugaz, mas exponencial com outros utilizadores. O Facebook é expositivo, fechado, e solipsista – o “outro” existe como audiência ou reflexo. Segundo, relaciono-me com muitas pessoas que não estão perto geograficamente, e que me são mais próximas e inteligentes do que algumas que estão. Até porque, se estão perto, a minha percepção deles não é tão superficial como a que o Facebook nos obriga a ter, e as acções não são likes: são palmadas nas costas, impropérios ao vivo e abraços quando é preciso. As outras são em conversas no chat e discussões nos comentários dos posts. Não são menos valiosas. Terceiro, gasta-me horas por dia. Está no telemóvel, no computador do trabalho e no de casa, nas mãos das pessoas com quem vou tomar café, que trocam piadas, fotos, vídeos e frases feitas em vez de as imaginar. O Twitter é que é o passarinho, mas foi o Facebook que fez de nós papagaios, a vomitar coisas para a mente colectiva, que perdeu a curiosidade em favor do voyeurismo. Podia apagar a minha conta, podia. Li dois artigos sobre como abandonar isto tudo e viver uma vida mais feliz. Acredito que seja possível mas, se o fizesse, já não poderia escrever esta coluna.
O Twitter é que é o passarinho, mas foi o Facebook que fez de nós papagaios, a vomitar coisas para a mente colectiva, que perdeu a curiosidade em favor do voyeurismo.