O que vem à rede
Rede de mentiras
A mentira faz parte da nossa vida. As crianças mentem para fugir às responsabilidades ou para impressionar os amigos. Os adultos fazem o mesmo e chamam a isso “perfis online”. Aceitamos a mentira porque, como dizia um certo doutor em Medicina, toda a gente mente.
Só que o grau de sofisticação das mentiras no mundo digital é tão grande que não sabemos muito bem como lidar com isso: fake news, perfis falsos, bots em vez de pessoas, imagens manipuladas e, raisparta, fake porn. Estamos a ir longe demais. Depois há quem viva para desmontar a mentira com efabulações, aka teorias da conspiração: nunca fomos à Lua, Michael Jackson está vivo, não há nenhum Tesla a flutuar no espaço. E o alcance destas - desculpem-me o uso desta falsa palavra - inverdades, é imenso e imediato.
Em vez de reagirmos naturalmente a este excesso de tretas com maior vigilância, parece que as aceitamos cada vez mais, da mesma maneira como consumimos fast food, ao ponto de a comida, que não é de plástico, nos começar a saber mal. Malta, a verdade sabe mal! Por isso é que temperamos a coisa com uns pós, ervas e óleos, porque os brócolos não são saborosos, nem as vossas férias nos causariam inveja sem os filtros do Instagram.
O cinismo que isto cria é tal, que a história de um homem que respondeu ao esquema do príncipe nigeriano para saber quem estava do outro lado e acabou por ajudar o burlão que, afinal, era mesmo da Nigéria, mas era tudo menos príncipe, parece completamente falsa. E a guerra no Iémen é o contexto de uma série americana, e os programas do Canal História são todos cientificamente fundamentados. Não é fácil.
O médico recomenda: acreditem no que quiserem, mas com um grão de sal.