PRIVACIDADE?
O recente escândalo que envolve o roubo de informação do Facebook por parte da Cambridge Analytica e a subsequente passagem dessa informação à campanha de Donald Trump e à das forças pró-Brexit no referendo de 2016 para manipular o eleitorado não devia ser notícia. Eu explico: era simplesmente um desastre à espera de acontecer, uma daquelas coisas que só quem não lida como o Facebook todos os dias a nível profissional acharia impossível. Há muito que esta rede social dá sinais de que da informação que recolhe sobre os utilizadores está ao Deus dará, porque, tirando não conseguir saber-se quem o “desaminga” na rede, as API do Facebook, que servem para criar aplicações que comunicam com a rede social, permitem manipular a informação que lá está de formas completamente arbitrárias e sem hipótese de controlo. Ao contrário do que acontece com o processo de verificação das aplicações para serem colocadas na loja Apple, o processo de verificação de aplicações do Facebook é reactivo e não preventivo. Basicamente, faz-se a aplicação e, se ninguém se queixar, está tudo bem. Não sei se reparou na forma como este roubo de dados foi detectado, mas foi necessário que um dos responsáveis pelo sucedido tenha alertado dois jornais, para que o caso tivesse chegado à opinião pública. Se o tipo não tivesse a consciência pesada a Cambridge Analytica podia estar ainda alegremente a roubar dados e a vendê-los a quem desse mais para manipular eleições. Qual é a lição a tirar disto? O génio está fora da lâmpada, o Facebook nunca mais vai ser o mesmo e o povo tem de ter mais cuidado com o que publica, ao que reage e no que clica nas redes sociais. E o Facebook terá de fazer uma revisão completa da forma como aprova e permite o funcionamento de aplicações no seu sistema. Se sobreviver a esta tempestade, Mark Zuckerberg tem de perceber que já não está no dormitório da universidade a criar uma rede para engatar miúdas. Agora a coisa é a sério.