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MÚSICA E MEMÓRIA

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«We live in a world of disposable music, fast food music without any content and I think this could be a victory for music with people that make music that actually means something. Music is not fireworks, music is feeling. So lets try to change this and bring music back, which is really what matters».

Há um ano, eram estas a palavras de Salvador Sobral depois de ter ganho o festival da Eurovisão com Amar Pelos Dois, uma música que de festivalei­ra tinha muito pouco. Lembro-me, na altura, de ter achado que o tema não tinha qualquer hipótese de vencer uma competição deste género, mas nos dias antes da final, comecei a perceber que Amar Pelos Dois ia ganhar facilmente a Eurovisão. Todo o hype que se gerou à volta de Salvador e da música começou a fazer r muito sentido; até a organizaçã­o do eurofestiv­al ajudou e deu-lhe um palco no meio do público, tornando a actuação ainda mais especial. Salvador Sobral provou que não era preciso fazer um circo para conquistar a atenção da Europa e dos fãs da Eurovisão. Mas, um ano depois, qual foi o resultado da conquista de Salvador? Nenhuma. O público fez reset, deixou-se levar por demagogias de vitórias da diferença, da inclusão e levou à vitórias uma inenarráve­l música de uma galinha gorda israelita vestida de japonesa em que, ironia suprema, passa o refrão a imitar uma ave e tem o palco cheio de fogo de artifício. A questão é perguntar por que razão é que isto aconteceu? A resposta é dizer que a vitória de Salvador foi em, completame­nte, em vão. A jóia que era Amar Pelos Dois caiu no esquecimen­to e foi substituíd­a por uma palhaçada, por um circo sonoro, por uma traição ao que Salvador Sobral pediu quando ganhou o troféu no ano passado. A música de Portugal ajudou? Não. Também devíamos aprender que tentar repetir fórmulas de sucesso, geralmente, dá mau resultado. Neste caso, o último lugar. Mas, pelo menos, fomos fiéis ao que Salvador disse em Kiev, a 13 de Maio de 2017. E isso vale muito mais pontos que os votos de uma Europa demente e sem memória.

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