DIRECTIVAS SEM NEXO
Escrevo estas linhas no dia em que a União Europeia vai votar a alteração da lei que rege os direitos de autor. Nesta directiva existem dois artigos que são fruto de um profundo desconhecimento de como funciona a tecnologia, a Internet e sobre o espírito que regeu a sua criação. Um obriga as plataformas digitais como o Youtube, Facebook ou qualquer outra, para onde os utilizadores possam enviar conteúdos, a terem filtros de upload que consigam bloquear automaticamente o carregamento de conteúdos considerados ilegais. Isto, no papel, é interessante, mas todos sabemos que não funciona. Nenhum filtro tem inteligência suficiente para conseguir distinguir entre algo que pode ser considerado utilização legitima de um conteúdo e pirataria. Por isso, por exemplo os memes podem vir a ser coisas do passado, a partilha de código de programação ou de qualquer outro conhecimento também vão ser dificultadas. Só para falar de alguns dos problemas que este artigo coloca. O outro vai obrigar os agregadores de notícias a pagarem pelos links que colocam nos seus sites. Aqui, entra o claro desconhecimento de como a Internet funciona. A rede tornou-se ao longo do tempo uma entidade mais ou menos simbiótica. Neste caso um agregador de notícias mostra links que por sua vez direcionam o utilizador para o site onde as notícias foram publicadas. Assim o agregador ganha tráfego e o site de notícias também. Não é pirataria como alguns, até em Portugal, apregoam. Um dos argumentos mais evocados para defender este artigo prende-se como o facto de muita gente apenas ler os títulos e não sair do site do agregador. Bom. Isso não é culpa do agregador. Talvez as notícias não tenham o interessa que os publishers pensam que têm. Esta solução já foi ensaiada na Alemanha e na Espanha com resultados devastadores para os seus defensores, que viram o tráfego nos seus sites descer vertiginosamente. Ao acabar de escrever este editorial soube que a directiva com estes artigos polémicos foi aprovada. A Internet nunca mais vai voltar a ser a mesma. Vai ser pior.