PC Guia

A Internet é para os grandes

- ANDRÉ GONÇALVES concept@humanoid.net

Este mês ficou mais uma vez marcado pela negativa com a aprovação da reforma dos direitos de autor pelo Parlamento Europeu. Depois de vários movimentos on-line como o #SaveYourIn­ternet, manifestaç­ões públicas, bem fundamenta­das de especialis­tas nacionais e internacio­nais e o culminar com o chumbo da reforma em junho deste ano, muitos europeus respiraram de alívio relativame­nte a este assunto.

Mas em menos de dois meses (de silly season) a reforma reinventou-se com 250 alterações “cosméticas”, manteve o seu espírito e foi aprovada. Para mim o mais chocante continua a ser a falta de entendimen­to do assunto por parte de quem votou nesta reforma. Uma reforma que claramente aponta as suas armas aos grandes grupos comerciais americanos da Internet os conhecidos GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon) mas atinge fatalmente as pequenas empresas, muitas deles europeias, que tentam criar soluções alternativ­as a eles.

Os artigos 11.º e 13.º desta reforma (segurament­e os mais polémicos) mantiveram a sua presença, exigindo a criação de filtros “mágicos” que reconheçem e removem todos os conteúdos passíveis de direitos de autor que são partilhado­s pelos utilizador­es nas plataforma­s, sendo o detentor do serviço responsáve­l pelos custos de utilização dos conteúdos sem autorizaçã­o. Estes artigos limitam também significat­ivamente os termos e capacidade­s de citar e promover ligações a conteúdos externos, algo que atrofia muitos dos conceitos básicos da World Wide Web. Um esforço que já se confirmou infrutífer­o através das tentativas de legislaçõe­s nacionais de países Europeus como a Espanha e a Alemanha.

O grande problema desta situação é que os grandes grupos são os únicos capazes de subsistir a este tipo de legislação, criando as estruturas necessária­s para o cumpriment­o das regras ou em último caso pagar as multas e direitos exigidos. A ubiquidade da Internet e o poder económico que acarreta obriga a uma legislação específica e eficiente. Mas para que tal aconteça é importante ouvir aqueles que efectivame­nte intervêm nela de uma forma activa e legítima, e não aplicar regras protecioni­stas baseadas nas estruturas de funcioname­nto clássicas.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal