Business as usual
O“homem do leme” da Apple, Tim Cook, ook, deu uma entrevista que foi exibida este fim-de-semana em que trouxe a lume algumas das “preocupações” que causam preocupação na indústria tecnológica. Sendo eu um céptico quanto às matérias que causam efectiva “preocupação” à indústria tecnológica no seu geral, fui vendo com a devida atenção alguns dos tópicos que foram abordados.
Um deles diz respeito à privacidade. Quem conhece as minhas posições sabe que durante muitos anos afirmei prescindir de alguma da minha a troco de um bem maior. Mas na verdade esse bem maior é cada vez mais diminuto. Diz Cook que é uma falsa questão que o problema seja observado como “privacidade versus lucro”, que o que a indústria de facto faz é dar aos dispositivos uma capacidade de inteligência artificial sobre o utilizador, mas que isso não quer dizer que a empresa lhe tenha acesso enquanto empresa. Por momentos achei que tinha visto mal… Cook quer mesmo convencer-me (nos) de que o acervo de conhecimento que tem sobre o utilizador não deve ser utilizado pelas empresas? Então por que é que esse mesmo acervo é constituído? (ninguém lhe perguntou, o que em si mesmo foi uma pena…).
Isto atirou inevitavelmente a conversa para a “besta negra” que há anos tem sido engordada pela evolução tecnológica, a da futura existência de regulamentação. Quando questionado sobre se a tecnologia em si mesma é do lado do bem ou do lado do mal, Cook disse o que Jacques de La Palice diria se fosse ele o entrevistado. Que tudo depende do utilizador, mas que já existem questões que precisam de regulamentação. Na esteira da melhor tradição Apple (It’s better to be a pirate than join the navy), Cook diz defender um mercado livre, mas concorda com o facto de que esse mesmo mercado livre não está a funcionar (a sério, Varatojo?), aproveitando para defender o seu acordo com a Google nos dispositivos de busca «porque eles são os melhores». Esta defesa também me faz sorrir. O nível de promiscuidade entre fabricantes de hardware, software é tão alto neste momento que se torna difícil acreditar no que quer que seja, nomeadamente no ‘compliance’ de fabricantes em termos da utilização do que recolhem constantemente. E não vejo a massa anónima a prevenir-se e a dar cada vez menos. Antes pelo contrário. Porque no fim do dia, é business as usual...