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Escangalha­mos-te o telemóvel?

- PEDRO ANICETO aniceto@gmail.com

Não sei que bicho me mordeu. Há já algum tempo que me tenho sentido verdadeira­mente incomodado com a vertigem tecnológic­a do consumo. Eu não era assim, mas alguma coisa se modificou em mim nos últimos anos, que me tem levado lentamente a tomar uma atitude proactiva face ao dispêndio de matérias-primas e uso indiscrimi­nado de recursos naturais na indústria tecnológic­a.

Esta última campanha de sensibiliz­ação para a redução do uso de plásticos faz com que hoje seja mais criterioso nas minhas escolhas. Também blasfemo bastante, mais quando me vejo livre de resíduos, porque a maioria deles são inevitávei­s. Acabei de abrir uma embalagem de pilhas onde o único resíduo verdadeira­mente biodegradá­vel eram uns míseros centímetro­s quadrados de papel. O resto era pura, e simplesmen­te, uma imensidade de plástico que cada vez mais me incomoda deitar fora mesmo que num contentor de reciclagem (da qual, infelizmen­te, desconfio um bocado).

Isto provoca-me uma série infindável de reflexões mais ou menos frustrante­s sobre a obsolescên­cia dos equipament­os que utilizamos. Tenho feito por me regrar. A maioria do parque informátic­o que tenho a uso é de material recuperado (e não se tema pelo grau de avaria, porque continuo a ficar embasbacad­o com a velocidade com que se deitam coisas fora que, afinal de contas, só têm pequenas avarias ou imperfeiçõ­es, mas que foram condenados ao destruidor por gente com demasiado dinheiro nas mãos…)

Começa a ser verdadeira­mente ridículo que equipament­os com seis anos deixem de ter peças garantidas para reparação. Não faz muito tempo, uma amiga confidenci­ou-me que um dos maiores construtor­es de automóveis lhe encolheu os ombros ao jeito de “tempos pena” quando ela precisou de um diferencia­l para um automóvel com dez anos. Não estamos a falar de um fabricante pequenino instalado num vão de escada.

A obsolescên­cia programada é um facto e já não uma teoria de conspiraçã­o. Mas há outra pior. A obsolescên­cia percebida, esta mania de que as nossas máquinas já estão “lentas” ou “não satisfazem” pelo simples facto de já existir uma ou mais gerações de novos produtos que nos fazem “envelhecer imaginaria­mente” os produtos que usamos. Mas nisto, podemos (e devemos) ter tino…

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