A investigadora Helena Alves descobriu uma forma de a roupa funcionar como um ecrã.
E se a sua roupa funcionasse também como um ecrã? Helena Alves lidera a parte portuguesa de um projecto internacional que está a tornar real esta ideia, ao desenvolver uma nova técnica para incorporar eléctrodos de grafeno transparentes e flexíveis em materiais têxteis. COMO CHEGOU À ELECTRÓNICA TÊXTIL?
Sou formada em química, pela Universidade Coimbra, e doutorada pelo Instituto Superior Técnico, onde me especializei em semicondutores, metais e supercondutores orgânicos. Depois de me dedicar aos materiais com propriedades electrónicas, segui um percurso mais empenhado na sua utilização em aplicações electrónicas. Estive no Instituto de Telecomunicações em Lisboa, e na Universidade de Delft, na Holanda, onde havia um grande interesse por nanotecnologia e pelo grafeno, nos quais também me envolvi. De regresso a Portugal, integrei o INESC-MN, um dos institutos ligados à nanotecnologia em Portugal, já como investigadora independente. Nessa altura, tive de estabelecer uma linha de investigação própria, e foi quando comecei a trabalhar em electrónica têxtil, onde os meus conhecimentos em materiais, nanotecnologia e dispositivos electrónicos eram uma mais-valia e podia estabelecer relações com a Indústria, uma vez que a industria têxtil tem uma grande expressão em Portugal. Em 2015, integrei a Universidade de Aveiro, onde sou Investigadora Principal e estou ligada ao CICECO, o maior laboratório de materiais em Portugal.
COMO SURGIU ESTE PROJECTO QUE VISA DESENVOLVER TECIDOS COM COMPONENTES ELECTRÓNICAS?
É um trabalho de colaboração que envolve a Universidade de Exeter, na Inglaterra, e a Centexbel, na Bélgica, que já tinha alcançado com sucesso fibras têxteis condutoras. Este projecto é uma continuação desse trabalho conjunto, onde se pretendia adicionar mais funcionalidades às fibras de forma a obter têxteis com a capacidade de se comportarem como dispositivos electrónicos.
E O QUE TRAZ DE INOVAÇÃO ESTE PROJECTO?
Criámos dois novos componentes directamente em fibras têxteis: um interruptor sensível ao toque (como o touchscreen dos telemóveis) e um dispositivo que emite uma luz, que permitiram fazer um pequeno circuito eléctrico: um botão que liga um pequeno ecrã (só de uma cor).
QUAIS AS PRINCIPAIS APLICAÇÕES DESTA INOVAÇÃO?
O desenvolvimento destes componentes permite criar têxteis electrónicos (roupas, tapetes, ou outros) vestíveis para uso em diversas situações, desde a visualização de informações simples até aos diagnósticos médicos. As roupas electrónicas hoje são fabricadas através da colagem de dispositivos nos próprios tecidos, tornando-os rígidos, susceptíveis de se estragarem com facilidade, para além de serem inestéticos e pouco resistentes (não podem ser lavados, por exemplo). Com materiais especiais e a nanotecnologia conseguimos fazer dispositivos tão pequenos que se tornam invisíveis aos nossos olhos. Estas fibras electrónicas com componentes leves e duráveis vão possibilitar que imagens e sinais luminosos sejam mostrados pelo próprio tecido.