Fique a conhecer Margaret Hamilton, a programadora que criou o termo ‘engenharia de software’.
Desta vez trago um bocado de história e escrevo sobre a mítica fotografia que já correu várias vezes o mundo: a da jovem que tem ao seu lado de uma pilha de papéis quase do seu tamanho. Os papéis eram, na realidade, páginas e páginas de código. A jovem era a programadora Margaret Hamilton, que criou o termo ‘engenharia de software’. Até ter chegado aqui, Margaret trabalhou em diversos projectos do programa Apollo e ajudou a pôr a missão Apollo 11 em solo lunar. No início, a programação era vista como uma tarefa repetitiva e pouco criativa, uma ‘coisa para mulheres’ equiparada à dactilografia. Toda a importância da tecnologia estava relacionada com o hardware. Foi na missão Apollo 11 que, pela primeira vez, o software assumiu um papel essencial a comandar a acção e a fazê-lo em tempo real. E Margaret Hamilton lá estava a trabalhar.
PROGRAMAÇÃO: UM TRABALHO TEMPORÁRIO
Licenciada em Matemática, Margaret Hamilton aprendeu a programar por conta própria. Na altura, não havia cursos especializados na matéria e este conhecimento passava de pessoa para pessoa, e pouco mais. Ser programadora não era realmente a carreira que Margaret queria seguir: este foi um trabalho temporário enquanto não fazia uma desejada pós-graduação em matemática. Margaret trabalhava como programadora no MIT e quando o programa Apollo foi lançado, liderava uma equipa de programadores daquela instituição que integrou o projecto da NASA. Ainda que, no início, o software não tivesse grande importância para o projecto, este cenário mudou por altura da missão que levou Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins à lua.
UMA QUESTÃO DE PRIORIDADES
Quando faltavam três minutos para o módulo Eagle pousar no Mar da Tranquilidade, o sistema começou a dar sinais de sobrecarga e a fazer soar alarmes. Ao mesmo tempo que se ocupava da tarefa de alunagem, a máquina estava a processar dados do radar de aproximação. Demasiadas operações para serem feitas em simultâneo. Por sorte, ou melhor, graças à preocupação em proporcionar uma saída para problemas inesperados, Margaret Hamilton tinha programado o sistema para que desse prioridade às tarefas por importância, e não pela sequência. Margaret teve de insistir para incluir este procedimento e sem ele a missão certamente teria sido abortada. Apesar do aspecto frágil, Margaret era uma jovem determinada. E empenhou-se em mudar a forma como o software era visto até então. «Lutei para legitimar o software, para que tanto a engenharia como aqueles que a construíam fossem respeitados como mereciam. Assim, comecei a usar o termo ‘engenharia de software’ para o distinguir da engenharia de hardware e de outras formas de engenharia, mas tratar cada tipo de engenharia como parte do processo geral de engenharia de sistemas. Quando comecei a usar o termo, a pessoas achavam graça. Durante muito tempo era um motivo de alguma chacota. Gostavam de brincar com as minhas ideias radicais. Por fim, o software acabou por ganhar o mesmo respeito que qualquer outra disciplina», contou recentemente a programadora ao jornal espanhol El País. Margaret Hamilton continuou a trabalhar nas demais missões Apollo assim como SkyLab, e mais tarde fundou a sua própria empresa de software, a Hamilton Technologies Inc.
Foi preciso uma mulher – Margaret Hamilton – para dar a importância à programação que esta merecia. Fê-lo enquanto trabalhava no programa Apollo - sem o seu código, provavelmente Neil Armstrong e os seus companheiros não teriam posto os pés na Lua em 1969.