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Conheça os SUV eléctricos do momento, com potências superiores a quatrocentos cavalos e autonomia para mais de quatrocentos quilómetros.
Fizemos um frente-a-frente entre dois automóveis eléctricos: Audi e-tron 55 quattro e Mercedes-Benz EQC 400 4MATIC.
É impossível ficar-se indiferente a qualquer um destes SUV eléctricos, já que tanto o EQC como o e-tron têm uma estranha, mas contagiante presença. Neste duelo, o modelo da Audi acaba por sair ligeiramente beneficiado, por ter um aspecto mais futurista e original; o EQC, mesmo com todas as alterações estilísticas, acaba por facilmente revelar a inspiração no popular SUV GLC. Para se tornarem mais apelativos que os modelos equivalentes com motor a combustão (embora o Audi e-tron não tenha equivalência directa), ambos os fabricantes tiveram de fazer um importante trabalho de personalização, bem como dotar os dois automóveis de um maior nível de equipamento, superior qualidade de construção e dos materiais utilizados. Quer o EQC, quer o e-tron, revelam um cuidado aerodinâmico pouco habitual neste tipo de veículos, que chega ao ponto de as jantes de liga leve usarem um desenho específico para reduzir o atrito do ar, sem prejudicar a necessária ventilação aos enormes travões utilizados por ambos, já que estamos a falar num conjunto superior a duas toneladas e meia em ambos.
INTERIOR FUTURISTA
Se, por fora, podem existir dúvidas sobre qual o modelo mais desejado, por dentro a decisão também não foi imediata. No Mercedes EQC, embora este utilize como base o SUV GLC, o interior é mais parecido com o utilizado pelos modelos compactos da marca, com a aplicação de duplo painel digital (para instrumentos e infoentretenimento), tendo também as saídas de ventilação sido redesenhadas, para se integrarem melhor com o visual envolvente, que une na perfeição o tablier com as portas, conferindo um resultado muito sóbrio e atraente. Destaque ainda para a utilização do sistema de som da Burmester, bem como para o sistema de infoentretenimento MBUX, que continua a ser o melhor e mais completo do mercado, estando, neste caso, ainda mais completo, graças ao sistema de realidade aumentada para navegação (opcional de 349 euros).
Já no caso do Audi e-tron, este assemelha-se bastante ao visual existente em modelos como Audi A6 e A7, embora tenha elementos diferenciadores, como a alavanca da transmissão. Equipado com três ecrãs, um para o painel de instrumentos, outro para o sistema de infoentretenimento e outro para a climatização, é possível optar-se pelos inovadores retrovisores externos digitais, um opcional de 1860 euros que substitui os habituais espelhos por câmaras, sendo a imagem reproduzida por ecrãs colocados nas forras das portas.
Embora inovadora, esta solução exige um período de adaptação, e poderá não ser tão prático quanto os espelhos tradicionais. Destaque ainda para a presença do excelente sistema de som Bang & Olufsen, maior espaço a bordo para passageiros e bagagem, bem como superior qualidade de construção e de materiais, com destaque para a utilização de menos plásticos brilhantes, ligeiramente mais resistentes aos inevitáveis riscos na superfície, como aconteceu no EQC.
SISTEMA ELÉCTRICO
Em termos de sistema eléctrico, nomeadamente motores, bateria e gestão energética, ambos os modelos são bastante similares, já que ambos utilizam dois motores eléctricos, cada um colocado num eixo, garantindo assim tracção às quatro rodas. Ambos anunciam a mesma potência combinada de 300 kW (408 cavalos), mas valores máximos de binário distintos, 664 Nm para o e-tron, e 760 Nm no EQC. Embora o nível de potência seja o mesmo, no Audi apenas terá acesso ao valor máximo se usar o modo de condução Sport, sendo utilizados
360 cavalos de potência na grande maioria das situações, para preservação da bateria. E, já que falamos em bateria, o e-tron conta com uma solução de 95 kWh de capacidade máxima, da qual são utilizados apenas 84 kWh, estando o EQC equipado com uma solução de 85 kWh, da qual apenas 80 kWh são utilizadas. Isto garante, segundo as mais recentes normas WLTP, a autonomias que podem chegar aos 436 km no caso do Audi e 417 km no caso do Mercedes-Benz. Volto a frisar, podem, mas dificilmente conseguirá aproximar-se desses valores, sendo o mais natural conseguir autonomias em torno dos 300 a 350 km, com o EQC a revelar-se sempre mais eficiente.
CONSUMOS E CARREGAMENTO
Para comprovar a anterior afirmação, decidimos fazer uma viagem com, sensivelmente, cem quilómetros de distância, com percursos mistos (auto-estrada, cidade e estrada). O valor médio de consumo ficou nos 19,5 kWh/100km para o Mercedes-Benz EQC, e 20,4 kWh/100 km para o Audi e-tron, valores muito próximos dos anunciados pelos fabricantes, mas incapazes de garantir as autonomias anunciadas. Aqui, foram utilizados os modos automáticos, com a regeneração no nível base, embora seja possível ajustar este parâmetro através das patilhas colocadas atrás do volante de cada modelo. Em termos de carregamento, o Audi tem carregamento rápido até 150 kW, estando o EQC “limitado” a 110 kW, embora isto de nada sirva se tivermos em conta que, em Portugal, os postos de carregamento rápido estão limitados a 50 kW. Já utilizando uma tomada doméstica ou uma wallbox, é o modelo da Mercedes-Benz quem brilha, não tanto pela velocidade do carregador integrado, mas sim
pela menor dimensão da bateria.
COMPORTAMENTO
Se, em termos de características técnicas, os dois modelos são muito similares, em termos de comportamento em condução, cada um revela facilmente a sua personalidade. Enquanto veículo eléctrico, é o EQC que mais surpreende e cativa, com uma resposta imediata a cada solicitação do acelerador. O e-tron revelou um comportamento e uma progressão mais suave e linear, tornando-se, de certa forma, mais similar ao comportamento de um veículo com o tradicional motor de combustão.
Ambos surpreenderam em termos de comportamento dinâmico, em parte graças ao baixo centro de gravidade, devido à disposição do pesado conjunto de baterias por baixo da carroçaria, mas rapidamente sentirá os limites da física, se optar por conduzir de forma intensa numa estrada mais sinuosa.