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«PASSAS VIDA AGARRADO À CONSOLA, VAI PARA A RUA!»

- DEFEITOS ESPECIAIS RICARDO DURAND / Editor

Há alguém que nunca tenha ouvido esta frase? Acho difícil. Muitos de nós vivemos a nossa infância ou juventude com os adultos a dizer para largarmos o comando; o melhor era irmos para a rua ter com os amigos ou passear com a namorada. A tecnologia tinha aqui um papel bem definido, de vilão: era a responsáve­l por nos manter presos em casa, alheados do mundo. Muitos de nós preferiam viver uma tarde com os estores corridos a fazer maratonas de Counter Strike ou de GTA. A vitamina D não lambia um milímetro quadrado da nossa pele. Este isolamento social foi motivo de conversas de pais com médicos: «Ela não sai, deve ter um problema de auto-estima», «ele fica o dia todo aos tiros, não tem uma vida normal». Fomos todos ensinados que a vida em casa era má e que a vida ao ar livre era boa: um sinal de que éramos normais e saudáveis. Horas em frente à televisão, a consolas e a computador­es eram horas de vida desperdiça­das; se estivéssem­os a ler um livro, a condenação parental podia ser atenuada. Não deixa de ser irónico que, no espaço de dois ou três dias, algures em Março, tudo se tenha invertido; a vida em sociedade tem uma nova forma. Os concertos são online, os filmes estreiam no streaming (a Netflix estava, na verdade, adiantada no tempo), as conversas são feitas com um microfone e o smartphone na vertical. O toque deixou de ser nas mãos, na cara, nos braços e passou a ser feito todo no ecrã. A tecnologia, que nunca afastou, agora é a única coisa que nos aproxima. Não consigo evitar um sorriso quando me lembro de alguém me pedir que deixasse a consola e que fosse para a rua - eu sabia que estava certo. Só que nunca imaginei que o motivo pudesse vir a ser este.

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