O MACACO PODE GOSTAR DE BANANA, MAS OS METAIS PESADOS NÃO
Isto até podia ser um remix da conhecida música de José Cid, mas neste caso trata-se se ciência pura. Quem diria que as cascas de banana podiam servir para alguma coisa além de fazer escorregar as personagens de desenhos animados? Segundo um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro (UA), a celulose, a lenhina e a hemicelulose, que fazem parte da composição destas cascas, podem servir para remover «metais pesados de águas contaminadas, nomeadamente do mercúrio, um metal muito tóxico para a saúde e para o ambiente». Mas as descobertas não se ficaram por aqui: os mesmos investigadores da UA chegaram também à conclusão de que as cascas da banana «são eficazes na remoção de outros metais tóxicos como o chumbo ou o cádmio». Elaine Fabre do projecto ( juntamente com Cláudia Lopes, Eduarda Pereira, Carlos Silva, Carlos Vale, Paula Figueira e Bruno Henriques), explica que a maior eficácia está no combate ao mercúrio, uma vez que as cascas são «ricas em grupos de enxofre», um elemento que tem uma «elevada afinidade» por este metal. As conclusões da UA foram publicadas na revista Science of the Total Environment e são esclarecedoras: «Para tratar cem litros de água contaminada com 0,05 miligramas de mercúrio, e de forma a atingir-se a concentração permitida para águas de consumo humano, que é de 0,001 miligramas de mercúrio por litro, seriam necessários apenas 291 gramas de cascas».
E será preciso fazer passar as cascas por algum processo especial para que fiquem prontas para absorver o mercúrio das águas? Segundo os investigadores não: «Basta colocar as cascas em contacto com a água contaminada por um determinado período de tempo». A partir daí, acontece um processo chamado ‘sorção’ que envolve a «retenção de um composto de uma fase fluida na superfície de um sólido». Isto pode, segundo os mesmos cientistas, ser feito, em «estações de tratamento de águas residuais, em efluentes industriais, ou mesmo em qualquer outro sistema que contenha águas contaminadas» Até agora, as cascas de banana foram testadas em «vários» cenários reais, inclusive com água do mar e conseguiram anular «muitos outros elementos para além de metais pesados», o que faz com que Elaine Fabre garanta que há um «potencial muito promissor na aplicação das cascas» no mundo real.