A TECNOLOGIA E O VÍRUS
Pela primeira vez na história de humanidade, há uma pandemia num mundo dominado pelas tecnologias digitais, em que a informação viaja à velocidade da luz e em que os cientistas podem trabalhar colabora tivamen te para encontrar um tratamento ou uma cura, independentemente do sítio onde estão. Mas também, nunca como agora a informação falsa, sobre esta doença, foi tão disseminada, principalmente através das redes sociais. Informações que dizem que o vírus foi criado de propósito na China para conquistar o mundo (ou com qualquer outro fim), que a tecnologia 5G ajuda na propagação do vírus (o que já levou a actos de vandalismo contra retransmissores de redes móveis na Grã-Bretanha), que beber lixívia mata o vírus ou que existem medicamentos milagrosos que acabam com a doença, mesmo sem qualquer estudo científico que o prove.
E o pior de tudo é que há pessoas (algumas com cargos importantes em governos ou parlamentos) que, rodeadas de informação credível e verificada, optam por acreditar nestas e noutras coisas com o mesmo grau de implaus ibilidade. Não, porque seja difícil de acreditar que a radiação electromagnética, devido às potências com que funcionam as redes móveis, não causam problemas para a saúde, ou muito menos que são um factor de propagação de vírus, mas sim porque não se dão ao trabalho de ler um bocado. Não é necessário tirar um curso de física ou de medicina, basta procurar um pouco.
Este é também um trabalho que tem de ser levado a cabo pelos veículos de informação, nomeadamente pelas redes sociais e pelos repositórios de conteúdos, como o YouTube. Os algoritmos têm de ser afinados para excluir informação falsa e, quando isso não for possível, é necessário reforçar as equipas humanas de moderação para limitar a disseminação de conteúdos que são falsos e, mesmo potencialmente, perigosos para a saúde pública.