AVEIRO: A TERRA DOS OVOS MOLES E DOS OSSOS RIJOS
Quando dizemos que alguém é ‘rijo de ossos’, queremos dizer que é uma pessoa forte e resistente, quase incapaz de ter uma lesão grave ou partir uma perna ou um braço. Mas, como nem todos temos esta genética, é natural que uma queda ou pancada mais forte acaba por resultar num osso partido. Em alguns casos, este é um processo demorado e que depois envolve tratamentos dedicados e fisioterapia. A regeneração de tecidos ósseos pode ser complicada, mas em Portugal temos um verdadeiro especialista na matéria que pode ajudar a melhorar o processo - e isso acaba de lhe valer um prémio. O cientista João Mano, da Universidade de Aveiro (UA), ganhou uma bolsa de 2,5 milhões de euros (a Advanced Grant) atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC, em inglês) para desenvolver a sua pesquisa neste campo, durante cinco anos. O trabalho será feito na área da bioengenharia de tecidos humanos e biomateriais avançados, nomeadamente na «criação de estratégias para a regeneração de tecido ósseo, que poderá ter impacto em casos de perda massiva ou fracturas extensas de osso», explica a UA.
«Sinto-me extremamente honrado com este reconhecimento extraordinário, e pelo apoio de todos os membros do grupo», disse o cientista. O Conselho Europeu de Investigação decidiu atribuir esta bolsa a João Mano pelo projecto ‘REBORN: Full human-based multi-scale constructs with jammed regenerative pockets forbone engineering’, onde o cientista escreve sobre a «utilização de proteínas obtidas a partir de tecidos recolhidos durante o parto, e normalmente descartáveis, como a membrana amniótica e o cordão umbilical». Segundo João Mano, estas proteínas «servem de base para a construção de dispositivos altamente hierarquizados, desde a nano à macro-escala, com uma grande capacidade de gerar tecido ósseo mineralizado e promover a sua vascularização». Na sua pesquisa, além das aplicações in vivo, o cientista prevê que as suas conclusões possam ajudar a criar «modelos de doenças de dimensões e especificações semelhantes aos dos tecidos reais», para testar novos fármacos e terapias, num processo que possa servir «como alternativa aos ensaios com animais ou aos testes clínicos».
Esta é já a segunda vez que João Mano é galardoado com a ERC Advanced Grant e é, até agora, o único cientista português a receber este tipo de bolsa.