A COVID-19 VAI ENGOLIR UM SAPO
Sim, há diferenças entre o sapo e uma rã, mas era impossível resistir a este trocadilho para dar uma ideia daquilo que uma equipa de investigadores portugueses da startup nacional Bioprospectum está actualmente a fazer. Alexandra Plácido, José Leite, Jacó Mattos descobriram propriedades que poderão ajudar na luta contra a COVID-19 em dois péptidos («biomoléculas formadas pela ligação de dois ou mais aminoácidos») da rã-verde ibérica, encontrada nos Açores.
A empresa acredita que estes elementos têm capacidades para «neutralizar partes estruturais do SARS-CoV». O estudo destes batráquios fez com que a startup nacional identificasse duas substâncias «com potencial actividade antiviral» e que podem ser usadas com «química computacional» para atacar a doença.
Neste momento, a equipa da Bioprospectum vai testar «moléculas in vitro, em cultura de células, para perceber se os péptidos têm as “armas” necessárias para «tratar as infecções causadas pelo SARS-CoV-2». Estes testes acontecem durante o mês de Agosto no iMED – Instituto de Investigação do Medicamento da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
O sistema de análise molecular da startup, criado em conjunto com uma empresa brasileira de inteligência artificial (MI4U), tem ajudado a poupar tempo deste tipo de estudos, uma vez que tem a capacidade de «seleccionar as substâncias mais apropriadas para um determinado fim» e, assim, «evitar uma análise pormenorizada a cada molécula dessa mesma amostra». Segundo José Leite, um trabalho que poderia «demorar anos», pode agora ter resultados «em meses», já que a plataforma de análise da Bioprospectum permite «aliar a bioprospecção com inteligência artificial» e permite ainda ao investigador «focar-se apenas nas moléculas que podem ser úteis para o estudo».
A Bioprospectum, que está incubada na UPTEC, não apontou datas para que a análise das biomoléculas das rãs-verdes ibéricas esteja concluída, mas é de esperar que, no fim de Agosto, já possa haver novidades sobre a investigação. Pode ser que, finalmente, a COVID-19 possa engolir um sapo. Perdão, rã.