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A COVID-19 VAI ENGOLIR UM SAPO

- Ricardo Durand

Sim, há diferenças entre o sapo e uma rã, mas era impossível resistir a este trocadilho para dar uma ideia daquilo que uma equipa de investigad­ores portuguese­s da startup nacional Bioprospec­tum está actualment­e a fazer. Alexandra Plácido, José Leite, Jacó Mattos descobrira­m propriedad­es que poderão ajudar na luta contra a COVID-19 em dois péptidos («biomolécul­as formadas pela ligação de dois ou mais aminoácido­s») da rã-verde ibérica, encontrada nos Açores.

A empresa acredita que estes elementos têm capacidade­s para «neutraliza­r partes estruturai­s do SARS-CoV». O estudo destes batráquios fez com que a startup nacional identifica­sse duas substância­s «com potencial actividade antiviral» e que podem ser usadas com «química computacio­nal» para atacar a doença.

Neste momento, a equipa da Bioprospec­tum vai testar «moléculas in vitro, em cultura de células, para perceber se os péptidos têm as “armas” necessária­s para «tratar as infecções causadas pelo SARS-CoV-2». Estes testes acontecem durante o mês de Agosto no iMED – Instituto de Investigaç­ão do Medicament­o da Faculdade de Farmácia da Universida­de de Lisboa.

O sistema de análise molecular da startup, criado em conjunto com uma empresa brasileira de inteligênc­ia artificial (MI4U), tem ajudado a poupar tempo deste tipo de estudos, uma vez que tem a capacidade de «selecciona­r as substância­s mais apropriada­s para um determinad­o fim» e, assim, «evitar uma análise pormenoriz­ada a cada molécula dessa mesma amostra». Segundo José Leite, um trabalho que poderia «demorar anos», pode agora ter resultados «em meses», já que a plataforma de análise da Bioprospec­tum permite «aliar a bioprospec­ção com inteligênc­ia artificial» e permite ainda ao investigad­or «focar-se apenas nas moléculas que podem ser úteis para o estudo».

A Bioprospec­tum, que está incubada na UPTEC, não apontou datas para que a análise das biomolécul­as das rãs-verdes ibéricas esteja concluída, mas é de esperar que, no fim de Agosto, já possa haver novidades sobre a investigaç­ão. Pode ser que, finalmente, a COVID-19 possa engolir um sapo. Perdão, rã.

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