SALVE-SE A SARDINHA, LIXE-SE O MEXILHÃO
Em ano completamente atípico, ou Agosto passou para lá de Setembro, ou os portugueses ainda não foram de férias. É impressão minha ou ouvimos em meados de Julho que teríamos a app Stay Away Covid «antes de os portugueses irem de férias»?
Fui daqueles que se inscreveu para receber a aplicação em fase de testes. Fui daqueles que recebeu o email dizendo que podia fazer o download e participar nessa fase de testes, para depois saber que não estava disponível para iPhone. Escrevo já bem dentro da segunda quinzena de agosto e nunca recebi essa versão iOS para teste. O que já recebi, isso sim, foi um questionário onde poderia dar a minha opinião sobre o que achei da aplicação. Confuso? Nem por isso. Desapontado? Claro que sim. Surpreendido? Nop.
Por vezes, penso em nós, portugueses, como moderadamente extremados. Sou da opinião que, à parte das questões clubísticas no futebol, não somos extremistas em nada, mas somos muitas vezes extremados na nossa moderação.
A CNPD, por exemplo, é moderadamente extremista. Preocupada com liberdades, garantias e questões de privacidade deixa-se resvalar uma aplicação que pode (pretende pelo menos) salvar vidas.
Em tempos que se saltam etapas para aprovação de testes e produção de uma vacina a nível global que em última instância poderá ser do tipo ‘não se morra da doença, morre-se da cura’, a aplicação que poderia ajudar numa das ações mais importantes para a erradicação do vírus (a quebra das cadeias de transmissão) está, quase inexplicavelmente, ainda inacessível ao público em geral. E pelo que percebo, tendo-me registado como beta tester, ainda sem testes efectuados para os utilizadores de iPhone. Tivéssemos nós aqui, na empresa, clientes tão compreensivos quantos os portugueses.
Salve-nos a sardinha e uma cerveja num fim de tarde de calor porque se há uma app para tudo, para rastreamento do COVID ainda não. E quando se salva a sardinha, lixa-se o mexilhão.