A PERSEVERANÇA
As últimas semanas de confinamento têm contribuído para avançar na implementação de vários projectos caseiros. Dos upgrades nas impressoras 3D à construção de um gestor de todos os servidores caseiros numa plataforma Docker, passando pela introdução de vários novos membros na nossa “casa inteligente”, tudo flui de forma mais rápida, fruto do tempo-extra isolado em casa. Em catadupa, surgem mais e mais projectos a implementar.
Com o sucesso efectivo de um projecto, surge o estímulo positivo para avançar para outro, com um nível de complexidade maior. A cada nova dificuldade ou imprevisto surge também o estimulante desafio de o superar e, acima de tudo, empenho para não desistir e levar a bom porto todos os desafios a que me proponho.
São pequenos projectos, com metas relativamente curtas e riscos quase residuais. Mas, curiosamente, é o que melhor me permite apreciar e reconhecer de uma forma mais profunda os projectos de engenharia mais complexos da humanidade.
Um deles é o Perseverance, uma missão espacial incorporada num veículo automatizado que viaja neste momento em direcção a Marte. Quando escrevo estas palavras falta pouco mais de uma semana para que termine a sua viagem de mais de sete meses e 470 milhões de quilómetros. Pretende-se que aterre numa área formada por uma elipse de apenas sete por oito quilómetros, porque se acredita que, em tempos, foi aí o delta de um rio.
Esta tarefa é ainda mais complexa se considerarmos que a Perserverence tem as dimensões de um automóvel, pesa mais de uma tonelada e vai chegar à atmosfera de Marte a uma velocidade de vinte mil quilómetros por hora. Toda esta energia cinética tem de ser dissipada em poucos minutos para não danificar os delicados equipamentos a bordo.
Considerando que a atmosfera do Planeta Vermelho é tão, ou mais, atribulada e imprevisível que a da Terra, e que será um sistema totalmente automatizado a assegurar as manobras de aterragem, os planeadores de missões da NASA já apelidaram este momento de ‘sete minutos de terror’.
Uma missão de mais de dois mil milhões de dólares com o objectivo de encontrar vestígios de vida (presente ou passada) noutro planeta fica a cargo de um notável trabalho de engenharia que não tem lugar para erros ou possibilidades de reparação. Quando esta revista for publicada, já poderão confirmar o sucesso da aterragem da Perseverance em Marte, mas mesmo a esta distância, consigo dizer que a minha confiança no sucesso desta missão é muito grande.