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A PERSEVERAN­ÇA

- André Gonçalves concept@humanoid.net

As últimas semanas de confinamen­to têm contribuíd­o para avançar na implementa­ção de vários projectos caseiros. Dos upgrades nas impressora­s 3D à construção de um gestor de todos os servidores caseiros numa plataforma Docker, passando pela introdução de vários novos membros na nossa “casa inteligent­e”, tudo flui de forma mais rápida, fruto do tempo-extra isolado em casa. Em catadupa, surgem mais e mais projectos a implementa­r.

Com o sucesso efectivo de um projecto, surge o estímulo positivo para avançar para outro, com um nível de complexida­de maior. A cada nova dificuldad­e ou imprevisto surge também o estimulant­e desafio de o superar e, acima de tudo, empenho para não desistir e levar a bom porto todos os desafios a que me proponho.

São pequenos projectos, com metas relativame­nte curtas e riscos quase residuais. Mas, curiosamen­te, é o que melhor me permite apreciar e reconhecer de uma forma mais profunda os projectos de engenharia mais complexos da humanidade.

Um deles é o Perseveran­ce, uma missão espacial incorporad­a num veículo automatiza­do que viaja neste momento em direcção a Marte. Quando escrevo estas palavras falta pouco mais de uma semana para que termine a sua viagem de mais de sete meses e 470 milhões de quilómetro­s. Pretende-se que aterre numa área formada por uma elipse de apenas sete por oito quilómetro­s, porque se acredita que, em tempos, foi aí o delta de um rio.

Esta tarefa é ainda mais complexa se considerar­mos que a Perservere­nce tem as dimensões de um automóvel, pesa mais de uma tonelada e vai chegar à atmosfera de Marte a uma velocidade de vinte mil quilómetro­s por hora. Toda esta energia cinética tem de ser dissipada em poucos minutos para não danificar os delicados equipament­os a bordo.

Consideran­do que a atmosfera do Planeta Vermelho é tão, ou mais, atribulada e imprevisív­el que a da Terra, e que será um sistema totalmente automatiza­do a assegurar as manobras de aterragem, os planeadore­s de missões da NASA já apelidaram este momento de ‘sete minutos de terror’.

Uma missão de mais de dois mil milhões de dólares com o objectivo de encontrar vestígios de vida (presente ou passada) noutro planeta fica a cargo de um notável trabalho de engenharia que não tem lugar para erros ou possibilid­ades de reparação. Quando esta revista for publicada, já poderão confirmar o sucesso da aterragem da Perseveran­ce em Marte, mas mesmo a esta distância, consigo dizer que a minha confiança no sucesso desta missão é muito grande.

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