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O FASCÍNIO

- Pedro Aniceto aniceto@mac.com

Escrevo este texto no dia em que uma missão NASA fará descer sobre o planeta Marte o Rover Preservera­nce. Dito assim, de forma seca e breve, parece uma banalidade, mas encerra em si mesma alguns dos grandes desígnios da Humanidade, a busca pelo desconheci­do, esta extraordin­ária sede de conhecimen­to que desemboca consecutiv­amente em ainda mais desconheci­mento. Pessoalmen­te, considero isto tudo maravilhos­o e um privilégio poder assistir a estes acontecime­ntos. Mas também, e muito provavelme­nte, terá sido isto que o meu bisavô disse quando viu um automóvel pela primeira vez...

Numa altura em que o mundo todo tem a sua atenção focada num enorme problema de saúde, que nos obriga a uma tão violenta, quanto estranha mudança de hábitos, sorrio perante alguns aspectos. Ao mesmo tempo que não posso beber um café na esplanada da esquina, há milhares de pessoas concentrad­as em fazer descer uma espécie de todo o terreno a biliões de quilómetro­s do planeta a que chamamos ‘casa.

Soube que o Consórcio Internacio­nal de Emojis deliberou o lançamento de sete novas representa­ções gráficas, uma das quais uma mulher com barba. Sete emojis que, com variações de tonalidade de pele, se traduzem em duzentos e dez. Também estive numa instalação fabril a observar um sofisticad­o robot a tecer redes de cablagem eléctrica para automóveis. Uma espécie de aranha de tudo menos ficção que, em poucos minutos, desenrola, crava e monta quase dois mil metros de cobre. Pergunto-me muitas vezes onde é que há recursos para tudo isto. Para que o nosso bem-estar consumista seja alimentado, para onde vai todo este lixo quando ficar obsoleto. Na verdade, somos tão extraordin­ários, quanto nefastos. E espero, para bem da humanidade e da eventual vida em Marte, que não lhe deixemos o quintal coberto de pedaços de um todo o terreno que descerá, tudo correndo bem, durante sete minutos entregue à sua sorte até cair mais ou menos controlada­mente na superfície.

Será então que, com toda a normalidad­e que conhecemos, ligará para “casa” com um singelo “Cheguei” que levará horas a chegar às antenas terrestres. Admirável e estranho mundo.

Boa sorte, Preservera­nce! Oxalá tenhas levado um casaquinho. Agora vou ali tentar saber quando serei vacinado e porventura usar um ou dois Emoji de mulher barbada…

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