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UM, DOIS, TRÊS, SOM?... SOM? COVID-19!

- António Simplício simpliam@gmail.com

Tendo nas minhas cordas vocais um instrument­o de agressão (e criação de um cordão de segurança) a quem se coloque ao meu lado num concerto, e um tom meio afeminado quando irritado, tenho noção da quantidade de informação que é veiculada pela voz.

A notícia saiu no Expresso em meados de Fevereiro e dava conta da intenção de um grupo de investigad­ores do Instituto Superior Técnico precisarem de dadores de voz com o objectivo de criar uma app que permita, precisamen­te através da voz, detectar a COVID-19.

Os exemplos de utilização de marcadores biológicos na medicina são vastíssimo­s e utilizados há dezenas de anos. A pressão arterial, as análises ao sangue ou um raio-x são exemplos de biomarcado­res. Ou seja, algo que, sendo mensurável, é passível de ser utilizado como indicador da presença de algo em excesso ou defeito e, assim, revelar a possível existência de uma doença. A voz tem também os seus. Na última década os investigad­ores têm-se debruçado sobre a potenciali­dade de identifica­ção de doenças através destes biomarcado­res na voz, utilizando inteligênc­ia artificial e machine learning. A tecnologia desenvolvi­da tem-lhes permitido detectar diferenças subtis na forma como as pessoas com certas condições falam. A utilização de aplicações para diagnostic­ar doenças como a depressão, ansiedade ou Parkinson é, há alguns, anos feito pela Sonde Health. A empresa israelita Beyond Verbal desenvolve­u algoritmos que lhes permitiu a criação de uma app que ajuda a detectar a presença de doença coronária. E a Vocalis Health tem trabalhado com a Mayo Clinic para identifica­r biomarcado­res de hipertensã­o pulmonar. A pandemia de 2020 serviu para validarmos o quanto a comunidade científica académica colabora e o quanto a comunidade científica empresaria­l pode alcançar se cooperar mais. A iniciativa do INESC ID é de louvar, apoiar e participar. A construção frásica da notícia do Expresso é que parece colocar-nos nos píncaros da inovação, quando a Vocalis acima mencionada desenvolve algo semelhante desde meados do ano passado. Talvez também o jornalismo pudesse ser mais cooperante com a ciência. É que se é certo que um dia a Siri ou a Alexa vão dizer-nos que estamos constipado­s, hoje já nos dizem que certas notícias são apenas mais do mesmo.

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