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O MANIFESTO ARTÍSTICO DOS TOKENS NÃO FUNGÍVEIS

- André Gonçalves concept@humanoid.net

Identifica­dores únicos de um bloco de dados que apenas uma entidade pode deter: os NFT são a derradeira forma de reconhecim­ento de todo o tipo de arte digital. As peças de arte tradiciona­is ganham reconhecim­ento e valor pela sua legitimida­de e unicidade. Um quadro de Van Gogh ou uma escultura Michelange­lo agregam um enorme valor ao seu proprietár­io, não tanto pelo conteúdo percepcion­ável dos mesmos, como objetos, mas sim pelo facto de serem únicos e insubstitu­íveis.

Essa caracterís­tica não fungível da arte tradiciona­l não estava, até há pouco tempo, disponível para qualquer tipo de manifestaç­ão artística digital, pois pela sua natureza podiam ser infinitame­nte reproduzid­as e replicadas, sem qualquer perda ou identifica­ção de origem.

Os NFT, de que agora tanto se fala, são os certificad­os de unicidade garantida por uma blockchain, que permite que qualquer criador de conteúdo digital venda um conteúdo como o original, agregando o valor dessa originalid­ade da arte a quem possuir esse token.

O possuidor de um NFT não consegue desfrutar da arte de uma forma destinta de qualquer outra pessoa que a consulte na blockchain. Apenas tem a capacidade única de transferir o seu direito de posse para outra entidade. Da mesma forma como o proprietár­io de uma pintura tradiciona­l, não ganha quaisquer direitos conexos ou possibilid­ade de venda de reproduçõe­s. O autor mantém todos benefícios para além da posse virtual da peça de arte.

Apesar de um artista não estar impedido de produzir infinitas cópias de uma mesma arte, validando-as com diferentes NFT, a natureza colectora e possessiva da humanidade levou já várias pessoas a pagar milhares de euros por representa­ções digitais de imagens, músicas e até mesmo tweets.

Os NFT não são, propriamen­te, uma novidade: mesmo antes das criptomoed­as, o conceito já existia. Mas até se integrar os NFT numa blockchain, não era realmente possível reconhecer o valor universal da originalid­ade de uma peça digital.

É bom, finalmente, termos encontrado uma forma de dar o reconhecim­ento devido a todos os artistas que produzem conteúdo puramente digital, especialme­nte pelo facto da gestão do mesmo ser feito de uma forma descentral­izada e sem uma dependênci­a única, para assegurar a continuida­de do registo do mesmo. Mas, ao mesmo tempo, não deixo d e olhar de uma forma bastante desconfiad­a para os valores a que estão a ser transacion­ados alguns NFT e como estão a ser encarados como um investimen­to de futuro.

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