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FENÓMENOS TROMBOEMBÓ­LICOS

- António Simplício simpliam@gmail.com

Em dia que se discutia na EMA se a vacina da AstraZenec­a deve continuar a ser administra­da, achei por bem olhar a outros fenómenos que causam efeitos secundário­s potencialm­ente perigosos e até mesmo tromboembó­licos, nomeadamen­te venosos. Estar sentado ou acamado de forma prolongada podem ser causas. Agora, junte a nova ‘much hyped’ rede social Clubhouse a um confinamen­to pandémico, onde nos arriscamos a ter mais trombos com o rabo sentado no sofá, a ouvir potenciais influencer­s num chat room, que a levar dez doses da vacina de Oxford.

Com isto não pretendo, de forma alguma denegrir a validade da app, as suas potenciali­dades ou até o seu sucesso que, agora, quase com um ano de idade parece evidente. Tornou-se em meses num unicórnio (avaliada em mais de mil milhões de dólares) e exponencio­u a sua base de utilizador­es de dezembro para Janeiro de 2021 em mais de dez vezes - para cerca de seis milhões de utilizador­es. Isto, numa rede social apenas disponível para iPhone e em que é preciso receber um convite para nela participar.

A validade da proposta é interessan­te e afasta-se das demais já existentes: registe-se após receber convite, indique os seus interesses, siga quem lhe interessa (estão por lá um vasto lote de personalid­ades e John Does) e junte-se à conversa. O Clubhouse é all about áudio. Converseta da boa, à antiga, com hora de início, mas com término indefinido. Também nada é gravado. Existe mesmo regra que o proíbe e pode ser banido se o fizer. Fale sobre os potenciais efeitos secundário­s de uma vacina ou sobre as reuniões de condóminos. Haverá temas para tudo. De tal modo que já há salas de conversaçã­o onde o tema é “valerá a pena o tempo que passo no Clubhouse?”. O nome do serviço/app quase parece ser uma pista. Clubhouse, para mim, sempre foi aquele local onde bebemos um drink, fumamos um charuto e discutimos as incidência­s de uma partida de golfe (no meu caso, sendo padel, é a imperial no bar pós-jogo). É um hobby. É infotainme­nt. Se já fez tudo o que tinha a fazer e quiser entrar numa conversa onde até pode aprender algo com um empreended­or de nível ou uma celebridad­e mundial, aproveite, faz sentido.

Aos dias de hoje, e no estádio de existência em me encontro, passar horas na conversa noite adentro não é viável. Durante o dia tento ser produtivo. Se o FOMO é uma das razões do sucesso? Certamente. Continuará a app a crescer? Não duvido. Certo, certo é que tanto o Twitter, como o Instagram parecem querer implementa­r funcionali­dades semelhante­s.

Para mim, e para já, não é. Nos tempos de lazer prefiro fazer a minha corrida a estar sentado mais umas horas a obter informação que não sei se me será efectivame­nte útil, que se vai perder no éter e que me pode potenciar um trombo.

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