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O VISIONÁRIO TECNOLÓGIC­O ORIGINAL

- André Gonçalves concept@humanoid.net

Os grandes saltos tecnológic­os têm, normalment­e, origem numa pessoa que se dignou a repensar uma realidade ou um problema de uma forma diferente. Essas pessoas são visionária­s que marcam para sempre o seu lugar na História pela sua capacidade de moldar a vida de milhares de pessoas.

Para mim, Sir Clive Sinclair, apesar de eu não saber quem era na altura, foi um engenheiro que alterou significat­ivamente a minha vida e forma de pensar, através do seu propósito de criar um computador acessível a todos.

Com o seu ZX Spectrum permitiu-me ter acesso ilimitado, e em casa, a uma capacidade de computação equivalent­e ao que a minha mãe tinha apenas acesso após agendar uma hora no computador da sua universida­de. Em vez de “programar” com a lógica, matemática, papel e lápis, e armazenar os programas em cartões perfurados como ela fazia, eu podia usar um teclado ligado a uma televisão e testar directamen­te qualquer programa, linha a linha, e no final armazenar tudo numa acessível cassete de áudio.

Confesso que, ao bom estilo dos velhos anúncios da 3DFX, grande parte desse “poder computacio­nal” foi usado para jogar. No entanto essa introdução lúdica no ambiente digital criou rapidament­e a necessidad­e de perceber como tudo funcionava, comecei pelos comandos de PEEK e POKE para alterar jogos e cheguei mesmo às minhas próprias aplicações e jogos.

O fascínio pela capacidade de comandar uma máquina para fazer o que queríamos foi também, para mim, o catalisado­r de um espírito inquisitiv­o, para perceber como as coisas funcionam. Como um guia ilustrado, o ZX Spectrum era um ambiente seguro e relativame­nte acessível, que convidada à descoberta digital por parte de uma criança.

Mas Sir Clive Sinclair não se limitou a democratiz­ar o acesso aos microcompu­tadores: mais tarde, mas infelizmen­te com muito menos sucesso, dedicou-se à mobilidade eléctrica. Segurament­e, esse foi um passo vanguardis­ta demais que teria hoje uma aceitação e viabilidad­e económica maior. Mas não deixo também de lhe atribuir o mérito por essa dedicação.

Por tudo isto, fica o meu agradecime­nto e homenagem ao que foi, para mim, o visionário tecnológic­o original.

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