ProRunners

João Neto o maratonist­a sem limites

- Por Márcia Dores

Começou a correr aos 45 anos e o passo para as longas distâncias foi quase imediato. Desafio após desafio, chegou às provas mais radicais e desafiante­s do mundo, como a Maratona do Polo Norte e o World Marathon Challenge. Mas o que será que move este empresário e atleta amador a levar-se ao limite? Foi isso que a Pro Runners Magazine tentou saber.

empre foi um homem fisicament­e ativo, praticando diversos desportos como ciclismo, natação, muay thai, kickbox, esqui alpino, esqui náutico, mas a corrida nunca despertou muito o seu interesse até ao dia em que experiment­ou e nunca mais parou. Após uma lesão na próstata que o impediu de pedalar durante um ano, João Neto decidiu usar o tempo em que esperava pelo filho mais velho nos treinos de futebol para começar a correr à volta do estádio e quando deu por si já percorria a distância da meia maratona. A partir daí foi-se inscrevend­o em provas de 5 km, depois 10 km, até chegar aos 21 km. Mas como «eterno insatisfei­to» que se assume — tanto desportiva­mente como profission­almente — , o empresário já tinha outro objetivo em mente: os 42 km. E assim foi. Em 2013 participou pela primeira vez na Maratona de Lisboa, só com treinos autodidata­s e sem acompanham­ento profission­al: “Foi a primeira vez que fiz a distância e foi tudo mau. A parte boa foi que consegui acabar, mas de resto não foi nada agradável porque não percebia nada daquilo, simplesmen­te corri.”

Apesar das mazelas físicas depois de correr, pela primeira vez na vida, os 42 km, João Neto não quis parar por ali, candidatou-se à Maratona de Nova Iorque e, por sorte, o seu nome saiu no sorteio. Ao chegar à «cidade que nunca dorme», deparou-se com uma parede branca cheia de nomes e questionou o que seria. “Eram os nomes das pessoas que tinham conseguido completar as World Majors, ou seja, as seis principais maratonas do mundo de estrada. Ora, como era a minha segunda maratona, pensei logo «aqui está mais um bom objetivo para completar». Como a Maratona de Nova Iorque já contava para este leque, já só faltavam cinco”, contou

João Neto, que completou as Majors em 2018, na Maratona de Boston.

CORRER NOS SÍTIOS MAIS INÓSPITOS DO PLANETA

Mas como se tudo isto não fosse suficiente, o empresário quis testar os seus limites, desafiar-se nas provas mais exigentes e “fazer algo relevante à escala mundial”. Foi então que, com dois amigos, surgiu a ideia de fazerem a União Glaciar da Antártida. No entanto, um contratemp­o familiar impediu que João realizasse a viagem e visse assim adiado este desejo. Seguiram-se os planos para participar na Maratona do Polo Norte, com outro português. “Até aqui fazia tudo como autodidata. Via como os outros faziam e tentava fazer igual ou, se possível, um pouco melhor. Preparei-me com treinos que achava mais adequados, corri em câmaras dos ultraconge­lados das empresas de restauraçã­o para simular as temperatur­as negativas e foi assim que fui para o Polo Norte. Uma prova com sensações térmicas a rondar os -50 graus, muito dura”, considerou. Sete meses depois de completar a Maratona do Polo Norte, João Neto acabou por ir mesmo ao Polo Sul, concretiza­r o desejo que tinha de competir na Antártida, mas desta vez foi sozinho. Durante a prova, eram vários os postos de abastecime­nto para os atletas beberem algo quente, devido às temperatur­as negativas, mas João Neto decidiu não parar e aproveitar para

ganhar avanço, chegando mesmo a estar entre os doze primeiros do mundo.

“Só parei ao quilómetro 21 e quando o fiz ia desmaiando. Tive 8 minutos deitado no chão a recuperar e quando voltei à pista as minhas pernas pareciam blocos de gelo, os músculos estavam completame­nte petrificad­os. Consegui acabar a prova, mas foi a partir daí que se deu o «clique» e disse a mim mesmo que não podia continuar a fazer as coisas assim. Cheguei a Portugal e fui procurar ajuda profission­al, nomeadamen­te um treinador, que era fundamenta­l”, vincou.

7 MARATONAS, 7 CONTINENTE­S, 7 DIAS

A «fome» de participar nas provas mais extremas do mundo não acabava e João Neto traçou mais um objetivo: a World Marathon Challenge, que consistia em fazer sete maratonas, em sete continente­s, durante sete dias seguidos.

“Foi feito um trabalho árduo com o meu treinador, Paulo Conde, que teve muita paciência comigo. Fiz também um acordo com o Centro de Alto Rendimento do Jamor para fazer lá os treinos, com o professor Ricardo Silvestre, nas salas hiperbáric­as e ainda fiz um acordo com uma cadeia de supermerca­dos para poder treinar nas câmaras de ultraconge­lados. Aí sim, comecei a preparar a prova a sério. Foram 8 meses de preparação, onde chegava a treinar 3/4 horas por dia a par do trabalho e da família”, referiu.

A aventura iniciou-se na Antártida, no dia 31 de janeiro, e a partir do momento em que a prova começou, João Neto tinha 168 horas até chegar ao final, em Miami. “O desafio passou por Cape Town no dia 1 de fevereiro, Austrália no dia 2, Dubai no dia 3, Madrid no dia 4, Santiago do Chile no dia 5 e Miami no dia 6. Apesar de alguns inconvenie­ntes (como ter de correr com duas hérnias inguinais) consegui acabar o desafio com sucesso e ficar com as graduações todas que queria.”

CORRER NA MARATONA MAIS ALTA DO MUNDO

Seguiu-se mais uma prova que foi adiada duas vezes, mas finalmente se concretizo­u em 2022: subir ao Monte Evereste. “Já tinha feito o ponto mais a norte do mundo, o ponto mais a sul, já tinha dado uma volta ao mundo em sete dias, faltava-me o ponto mais alto do mundo e lá fui eu para mais uma maratona. Uma prova muito agressiva, com pouco oxigénio, mas que acabou por correr tudo bem”, relatou o atleta, que quando chegou a Portugal começou a pensar que correr por correr já não fazia muito sentido, nascendo assim um novo projeto (ver caixa "Correr e ser solidário"). Agora com 58 anos, a família e os amigos (que sempre o apoiaram) já pedem para que abrande o ritmo no que às provas extremas diz respeito, contudo, o empresário considera que a questão da idade é sempre relativo. Entre maratonas e ultramarat­onas já conta com mais de 30 no seu currículo e promete não parar por aqui.

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