Vitória nas entrelinhas
CRISTIANO RONALDO FUNDAMENTAL A CONSTRUIR
Desbloquear o nulo foi a tarefa mais árdua da Seleção Nacional. Aaposta da Hungria numa organização defensiva coriácea, estruturada num 5x4x1 [ 1], repleta de referências individuais [ 1], tinha como objetivo anular o expectável 4x4x2 clássico idealizado, após a derrota na Suíça, por Fernando Santos, procurando, em momento ofensivo, o desdobramento num 4x4x1x1, meta-
HUNGRIA NÃO CAUSOU DIFICULDADES A ATACAR, MAS MOSTROU APTIDÕES DO PONTO DE VISTA DEFENSIVO
morfoseando Bese de lateral em médio-ala-direito, e Dzsudzsák de médio-ala-direito em segundo-avançado. Se, a nível ofensivo, a Hungria esteve longe de causar arduidades, mostrou aptidão do ponto de vista defensivo, para dificultar as tarefas de construção lusas, que acusaram menos velocidade e mais previsibilidade do que seria necessário, impedindo, em várias situações, que fossem exploradas as crateras entre a li- nha defensiva e intermediária do adversário [ 1]. Foi por esse espaço que Ronaldo delineou o triunfo: primeiro, ao receber a bola de William [ 2)] e ao fomentar uma desmarcação de Guerreiro no corredor esquerdo, responsável pelo cruzamento que redundou no golo de André Silva, arguto a atacar o segundo poste nas costas dos três centrais; depois, com um remate violento de pé esquer- do, após um resplandecente toque de calcanhar de André Silva [3], solícito a atacar a profundidade após passe longo de Pepe. Para essa mudança contribuiu a maior elasticidade tática da Seleção, com passagens pontuais para o 4x3x3 que baralharam a linha defensiva a cinco do rival e condicionaram as saídas em construção curta, e a enorme mobilidade das unidades ofensivas, astutas a produzirem arrastamentos que desfraldaram as debilidades do processo defensivo húngaro assente em premissas individuais. Na etapa complementar, disputada praticamente sem balizas, sublinha-se a capacidade da Seleção para controlar o jogo e os seus ritmos, surgindo o tento de Ronaldo, na transformação superlativa de um livre direto, como a cereja no topo do bolo. *