Record (Portugal)

“Tens toda a razão, Cristiano”

ACREDITEI TRÊS VEZES CONVICTAME­NTE NO SUCESSO DA SELEÇÃO NACIONAL NAS GRANDES COMPETIÇÕE­S. EM 2016 NÃO FOI ASSIM. AQUELES JOGADORES E TÉCNICOS SÃO UNS VERDADEIRO­S CAMPEÕES

- PAULO FUTRE

Quando o Cristiano Ronaldo disse na gala Quinas de Ouro: “Muitos dos que estão aqui dentro não acreditava­m em nós”, pensei nas três vezes que senti a máxima convicção de que Portugal podia ser campeão. E o Euro’2016 não estava nessa lista.

Aprimeira vez foi no Euro’2004, em Portugal. Jogávamos em casa, tínhamos uma seleção fortíssima e equilibrad­a em todos os sectores e a equipa era liderada pelos únicos sobreviven­tes daquela genial ‘Geração de Ouro’ do futebol português, campeã mundial de sub-20 em 1989 e 1991 e que mais tarde contribuír­am com o seu talento e caráter ganhador para que Portugal estivesse presente nos Europeus de 1996 em Inglaterra, na Holanda e Bélgica em 2000, e também no Mundial de 2002 na Coreia do Sul e no Japão. Esses autênticos craques eram Luís Figo, Rui Costa e Fernando Couto. Naquela altura, os três já ti- nham passado os 30 anos e podia ser a última grande oportunida­de de ganharem um título com a Seleção Ae terminarem as suas carreiras como Deus manda… O futebol está cheio de histórias maravilhos­as e tudo indicava que aquela seria outra grande história com um final maravilhos­o. Se o destino quis que o Campeonato da Europa 2004fosse em Portugal e que a final fosse disputada no Estádio da Luz, onde o Rui Costa e o Figo começaram em grande a sua carreira e onde foram campeões do Mundo sub-20, em 1991 –depois de ganhar a final ao Brasil –era porque queria ser justo com estes dois génios de classe mundial por tudo o que eles fize- ram no futebol. Quinze anos depois, naquele mesmo estádio onde tudo começou, ambos terminaria­m em grande a sua carreira genial com o título de campeões da Europa, assim pensava eu... até que chegou aquele pesadelo horrível. O destino, em 2004, foi muito cruel com Portugal. Meteu-nos na final e com o rival ideal. Só que no momento da verdade, quando faltavam 90 minutos para a felicidade extrema e alegria de todo um país, para surpresa de todos nós e do Mundo, abandonou-nos cruelmente e sem dar qualquer explicação. Se houve um dia em que o futebol foi terrivelme­nte injusto com um futebolist­a de elite, aquele foi um deles e logo com dois fenómenos. O Rui e o Luís não mereciam aquele final cruel.

Depois daquela enorme deceção, veio o Campeonato do Mundo na Alemanha em 2006, e o Euro’2008 na Áustria e Suíça, e em ambos estava otimista. Portugal podia chegar longe, mas aquela convicção de que podíamos ganhar, só voltei a ter em 2010 no Mundial da África do Sul. O Cristiano Ronaldo, com 19 anos, foi um dos grandes protagonis­tas do Euro’2004 e chorou ‘baba e ranho’ quando viu os gregos a levantarem a taça no Estádio da Luz. Mas, seis anos depois, o ‘Bicho’ já tinha sido Bola de Ouro e era o melhor jogador do Mundo, estava com 25 anos e ia disputar a quarta grande competição por Portugal. Aquela seria a primeira como capitão da Seleção e antes do primeiro jogo com a Costa do Marfim senti novamente a sensação superposit­iva . Fomos eliminados pela Espanha, nos ‘oitavos’, mas a minha convicção continuou igual no Euro’2012, na Polónia e Ucrânia. Nas grandes competiçõe­s, nos jogos a eliminar, a estrelinha da sorte tem de estar contigo, porque não há campeões sem sorte. Incrivelme­nte – como tinha sucedido na África do Sul – a estrelinha voltou a estar do lado dos espanhóis e fomos eliminados nas meias-finais e por penáltis. No Mundial do Brasil 2014, quando vi que o Cristiano não melhorava da tendinite que tinha no joelho, o meu grau de otimismo era baixíssimo. E no Euro’2016, depois das lesões de jogadores importante­s como foi o caso do Tiago, Danny, Coentrão e do jovem Bernardo Silva, o meu nível de otimismo continuava longe daquela convicção que senti em 2004, 2010 e 2012.

Por esta razão, quando ouvi da boca do CR7: “Muitos dos que estão aqui dentro não acreditava­m em nós”, senti que aquela frase também era para mim e para a grande maioria dos portuguese­s, porque antes do Euro’2016 havia três grupos de opiniões. O primeiro era o que não acreditava nada nesta Seleção, o segundo – onde me incluía – acreditava pouco e o terceiro era o que tinha plena convicção que Portugal podia ser campeão. Neste grupo muito reduzido só estavam os jogadores, o selecionad­or e a sua equipa técnica, as famílias de todos eles e pouco mais. Estes campeões da Europa são mesmo uns grandes e verdadeiro­s campeões. Se estivesse na gala e discursass­e depois de o ‘Bicho’ ter dito o que disse, a minha primeira frase seria “tens toda a razão, Cristiano”.

O DESTINO FOI MUITO CRUEL NO EURO’2004, NAFINAL COM AGRÉCIA. RUICOSTAEF­IGO NÃOMERECIA­M

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal