Record (Portugal)

Os mestres da motivação e da tática

-

JOAQUIM MEIRIM E MANUEL OLIVEIRA FORAM DOIS TREINADORE­S DE EXCELÊNCIA, À FRENTE DO SEU TEMPO. O FUTEBOL NACIONAL NÃO ESTAVA AINDA PREPARADO PARA GENTE COMO ELES

quando era jogador do FC Porto, por dois companheir­os guarda-redes e experiente­s.

O Jorge Amaral tinha sido jogador do Manuel Oliveira no Marítimo, e para ele taticament­e era um génio que sempre esteve muito à frente do tempo em que vivemos; os presidente­s e diretores dos grandes clubes ainda não estavam preparados para arriscarem num treinador com ideias inovadoras e totalmente diferente de todos os outros, como era o caso do Manuel Oliveira.

E o Matos tinha sido jogador do Meirim no Boavista. Se mudarmos as questões táticas para a motivação, a sua opinião era muito parecida com a do Amaral. Para ele, o Meirim era um génio da motivação.

Quando me retirei do futebol, 14 anos depois daquela conversa, tinha trabalhado com muitos técnicos e vivido experiênci­as incríveis de motivação, especialme­nte com Artur Jorge e Luis Aragonés, que eram excelentes motivadore­s, não só nas palestras coletivas e individuai­s, mas também nas jogadas psicológic­as e nas histórias que inventavam para motivar qualquer jogador em qualquer situação. Para os jogadores mais rebeldes, como era o meu caso, mais que uma história, eram novelas de psicologia que duravam toda a época. Eram autênticos génios da motivação. E o Fabio Capello também está neste grupo. Nunca fui o protagonis­ta das suas histórias, porque no ano em que estive no AC Milan encontrava-me lesionado, mas vi o genial motivador que era o italiano.

Naqueles14­anos, sempre estive atento a Joaquim Meirim e ouvi mil histórias suas e algumas delas brilhantes , como por exemplo a que sempre utilizou com os guarda-redes no seu primeiro ano nas equipas por que passou: no Boavista, assim que começou a Liga, o Matos era titular e o Madureira suplente. E em cada treino dizia frases como “grande defesa Madureira, és mesmo o melhor guarda-redes da Europa”, ou “que mão espetacula­r Mudureira, só o melhor guarda-redes da Europa, como é o teu caso, pode defender esta bola” e quando o Matos fazia algum brilharete, só dizia: “Boa defesa.” Con- clusão: o Matos pensava que ao mínimo erro que cometesse ia para o banco, porque o outro para o treinador era o melhor da Europa, e sabia que não podia relaxar nem um segundo; e o Madureira treinava como um leão, sempre com moral altíssimo e em todos os jogos pensava que finalmente o Meirim ia meter o melhor guarda-redes da Europa a titular, mas tal nunca aconteceu. Já perto do final do campeonato, o Madureira vai ao balneário do Meirim e diz: “Míster, se sou o melhor guarda-redes da Europa porque nunca fui titular?” E ele respondeu: “Porque o Matos é o melhor guarda-redes do Mundo.” Depois de me rir com este final maravilhos­o, pensei na excelente jogada psicológic­a do Meirim. Ele conseguiu que os dois tivessem em alta tensão e supermotiv­ados durante toda a época.

Esta história genial de psicologia e motivação está ao nível das histórias que vivi com o Artur Jorge, Aragonés e Capello. O Matos tinha razão e recordei as palavras do Amaral quando o Jorge Jesus disse isto em 2009: “Manuel Oliveira, quando foi meu treinador, já era um criador da tática e foi dos primeiros treinadore­s do Mundo a implementa­r o sistema 3-4-3, ensinou-me muito e algum do conhecimen­to que tenho hoje devo-o a ele.”

Recordo-medestesdo­ishomens carismátic­os porque Meirim, ‘o génio da motivação’, deixou-nos em 2001, e na terça-feira foi a vez de o ‘mestre da tática’ nos deixar. Desde estas linhas as minhas mais sentidas condolênci­as à família do Míster Manuel Oliveira.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal