Record (Portugal)

É possível salvar o futebol português?

- NUNO SANTOS

O PODER POLÍTICO DEVERIA INTERVIR, PROMOVENDO, COM A COLABORAÇíO DA FEDERAÇÃO E DA LIGA, UNS ESTADOS GERAIS QUE SERVISSEM PARA REFUNDAR ESTA INDÚSTRIA

Num dos grandes jogos da Premier League do fim de semana, o M. City-Arsenal, houve um golo em claro fora-de-jogo e um penálti a favor da equipa de Manchester que levantou sérias dúvidas. No fim do jogo, o treinador do Arsenal foi contundent­e nas críticas ao árbitro. Os analistas deram-lhe razão em parte, mas sublinhara­m a grande superiorid­ade da equipa de Guardiola e o tema, nos media, morreu ali. Não houve dirigentes emproados – e ainda por cima cheios de telhados de vidro –, diretores de comunicaçã­o no Facebook ou no Twitter, horas infindávei­s de discussão na TV, imagens a andar para trás e para a frente com especialis­tas de pacotilha, quanto mais adeptos aos gritos a falarem de cátedra.

Em Portugal é o que se sabe. Andamos neste patético frenesim e, como explicou sem nada mais poder fazer com as ferramenta­s de que dispõe o presidente da Federação, há um clima de ódio instalado que é hoje o perigoso e talvez fatal pano de fundo do nosso futebol.

Não é necessário ser adivinho para antecipar que com o caso dos emails escancarad­o nos jornais, porque a Justiça acha que assim está bem, com este rastilho do caso lateral da transferên­cia de Lucho González e agora com a ‘investigaç­ão’ a Bruno de Carvalho a tensão vai disparar. A Justiça tem de trabalhar, pena que não o saiba fazer em recato.

Chegámos a umbeco sem saída? Nummomento em que o futebol português dá cartas nas Seleções das diferentes categorias, e em termos globais em matéria de organizaçã­o e inovação, seria uma extrema ironia, mas a situação interna é crítica e a recente ação de Fernando Gomes, tão desprezada pelos clubes de topo, deve ser en- tendida como um alerta geral. Ir ao Parlamento é melhor do que não ir, mas não chega. Gomes lá esteve e qual foi a consequênc­ia? Falou, por exemplo, da questão dos programas de televisão e – aqui d’el Rei – os programas são magníficos, a liberdade de programar é sagrada (ai sim?) e a ERC (esse ser ainda vivo) “não recebeu queixas”. Tudo impecável.

O ano passado voltaram a morrer adeptos. O ambiente esta época, mesmo com o advento do

VAR, continua irrespiráv­el e estamos longe da fase decisiva da época em que os nervos estarão mais à flor da pele.

O poder político, e ninguém tem

a autoridade do Presidente da República, deveria intervir no futebol. Exercer uma magistratu­ra de influência, fazer um trabalho invisível, por um lado, e dinamizar, com a Federação e com a Liga, uns Estados Gerais que refundasse­m a indústria. Fernando Gomes, que já vai ficar na história do futebol

português, podia dinamizar esta ideia ou outra, até melhor.

O tempo é agora porque o que se

seguirá será complicado. É tão evidente que seria capaz de escrever, sem grande margem de erro, dez situações que ocorrerão nos próximos meses se nada for feito. Bom, escreverei apenas a primeira e não deixo de lamentar o meu pessimismo. Nada será feito para já, pelo menos até que algo de grave volte a acontecer. Estamos em Portugal.

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TOMADADE POSIÇÃO. A recente ação de Fernando Gomes, tão desprezada pelos clubes de topo, deve ser entendida como um alerta geral. Ir ao Parlamento é melhor do que não ir, mas não chega
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