Voltou o fantasma de Mourinho
COM O TREINADOR PORTUGUÊS, EM 2010, O INTER MILÃO VENCEU TUDO. SEGUIRAM-SE ONZE TÉCNICOS E NENHUM TEVE ÊXITO
Em 2010, no dia seguinte à apresentação oficial de José Mourinho como treinador do Real Madrid, ele ligou-me e convidou-me para jantar no hotel onde estava hospedado com o grande Silvino e o Rui Faria. Recordo-me que uma das primeiras perguntas que fiz foi sobre o jogo da segunda mão das meias-finais da Champions League, entre o Barcelona e o Inter Milão, que tinha sido poucas semanas antes. Naquela partida os culés tiveram 86 por cento da posse de bola, uma barbaridade, mas mais incrível ainda foi que, mesmo com a expulsão de Thiago Motta aos 28 minutos, deixando o conjunto italiano com 10 jogado- res, Messi e companhia praticamente não tiveram oportunidades claras de golo até ao final do jogo. Os homens do Mourinho naquela noite histórica só remataram uma vez à baliza, mas defensiva e taticamente foi o jogo mais perfeito que vi até hoje de uma equipa com 10 jogadores. O Inter passou a eliminatória e acabou por ser campeão da Europa depois de derrotar o Bayern Munique na final.
“Zé, o que disseste aos teus jogadores depois da expulsão de
Motta”, perguntei. O génio respondeu-me com outra pergunta: – “Sabes qual era o nosso grande inimigo a partir do minuto 28, Paulinho?” – “Não”, respondi.
– “A bola. De cada vez que tivéssemos a bola em nosso poder e a perdêssemos, aconteciam os únicos momentos em que o Barcelona nos podia surpreender. Eles com espaços são mortais. Para defender com a máxima perfeição, estar sempre bem colocados e compactos dentro do campo, e não cometer nenhum erro defensivo, só tínhamos uma solução. O que disse aos jogadores ao intervalo foi ‘A bola é para eles, a nossa missão é defender e nada mais do que defender. Hoje esqueçam a bola porque é o nosso pior inimigo!” Que génio...
E recordo-me desta história porque quando o José
Mourinho saiu do Inter Milão em 2010, a equipa italiana naquele ano tinha ganho tudo – campeonato, Taça e Champions League. A partir dali, começou um pesadelo interminável para os tiffosi nerazzurri que dura até hoje. Depois do técnico português, o Inter teve onze treinadores até esta temporada: Rafa Benítez, Leonardo, Gasperini, Ranieri, Stramaccioni, Mazzarri, Mancini, Frank de Boer, Stefano Vecchi, Pioli e Spalletti. E nenhum deles conseguiu ter êxito.
Já esta época, a 3 de dezembro,
o Inter ganhou 5-0 ao Chievo Verona e ficou líder no campeonato italiano. Parecia que finalmente os nerazzurri, depois de tantos anos de desilusões e autênticos fracassos, iam voltar aos títulos. Além de serem primeiros, os homens de Luciano Spalletti tinham disputado 19 jogos entre todas as competições e ainda não tinham perdido uma única partida. As 14 vitórias e os cinco empates faziam com que os tifosi nerazzurri estivessem eufóricos, confiantes na sua equipa e começavam a sonhar mais que nunca com o scudetto.
Mas num abrir e fechar de olhos
o sonho terminou. Dois meses depois daquela goleada ao Chievo, o Inter disputou mais 10 jogos: empatou sete e perdeu três. Foi eliminado pelo seu eterno rival AC Milan nos quartos-de-final da Taça de Itália e, antes desta jornada, estava no 4.º lugar, a 15 pontos do Nápoles. Voltou o caos, os pesadelos e também o fantasma José Mourinho.
NERAZZURRI CHEGARAM A LIDERAR O CAMPEONATO ESTA ÉPOCA, MAS ESTÃO EM QUEDA LIVRE